Pede um café. O sol tímido entra pelo pescoço, a manta escorrega. Estufas aquecem a calçada, e o inverno de transparência gelada se acomoda. Não se reconhecem no primeiro olhar. Depois a conversa se enreda no passado, na inquietação de risco … Cinquenta, ou quarenta anos, … vidas repartidas, preenchidas. Recomeçadas a cada embalo/ empurrão ou rompante de espanto. Palavras se atropelam ou se desviam instintivas. Riem, e se tocam. É real. Sonhos expectativas frustrações, o muro. Tanta coisa incomunicável, intransponível! Chorar, rir ou confessar, redimir não se pode, … É apenas uma tarde gelada de inverno.
O humano insiste no amor de apaixonar, ou de amar o amor que o outro ama, … ou se lançar apaixonado cego/surdo … não vê enquanto olha … se distrai. Insiste no podia/ia/teria acontecido, mas não foi. Não cabe em apenas uma vida tantos amores, tantas despedidas, e todas as fidelidades no para sempre. Tudo e todos não se ajustam.
Meu querido, a imaginação é anterior à memória, como diz Gaston Bachelard, e se a lembrança do meu sorriso está próxima a realidade, não sei … Não lembro se sorria tanto assim … Imagens claras podem se transformar em gerais. Se tudo está perfeito … então é preciso procurar uma lembrança particular para dar vida à imagem geral. Não encontrei a foto deste sorriso. O meu sorriso se perdeu, mas não a lembrança que tens dele, … como é bom pensar apenas nisso! Não acerto as conjugações dos verbos, tu foste, certamente, melhor aluno do que eu, pode me corrigir … Elizabeth M.B. Mattos – Torres, agosto de 2017.