a tal esperança

Estou mais velha, mais confusa, mais triste. Estonteada. Muito encontro no desencontro. Tristeza na mágoa… e aquele vazio que nos leva / arrasta para o silêncio que atordoa com grito e reclamação e raiva. Estou divagando. É o que gosto de fazer quando escrevo. Pensar e deixar correr/ escorrer. Estou diferente. Não é esquisito isso? Diferente para tudo. Acho que estou muito mais velha, idosa, cansada desta batalha deste acordar e seguir. Uma chatice, um aborrecimento olhar para os sulcos, as rugas, as manchas e não ter mais cabelos. O branco não me aborrece, mas serem ralos e finos sim, isso me aborrece. Envelhecer, perder a memória, fazer as coisas com passos miúdos me aborrece.  Não estou levando bem esta coisa de tempo passando, de experiência, deste bla blabla blá. Nem de transcendência. Digamos que estou bastante/muito/ completamente revoltada por não poder ser a Beth a Elizabeth de quatro meses atrás…Eu estava/era menina alegre, criança no verão e nesta primavera uma surpresa, abruptamente, entro neste estágio sombrio e pesado de envelhecer.  A morte tem estes contornos. E a vida, um dia depois do outro, também cura. A vida tem poder curativo, e rejuvenescedor.  Eu também sei. Tudo é uma questão de tempo, de lágrima e sorriso misturado. Da outra mão, do outro olhar, do outro abraço: eu chego.  Vou acreditar nisso, e me reabastecer naquela minha alegria nata, – risos. Com setenta anos já estamos na linha de risco. Distraídos como convém para a idade, o que significa preparados.  Que ideia! Nunca estaremos preparados nem prontos para nada, e contamos histórias para nós mesmos, e lá se constrói o engodo.

Estou no limbo, mas também perto da libertação, exorcizando, usando a consciência, um estado estranho de esquisito estranhamento. Escuto música, sinto um pouco de frio, liguei estufa, aquecimento e coloquei meias de lã. O dia está cinzento. E os vidros nublados, sujos. E a lagoa e as árvores e o céu parecem mais cinzentos ainda. Para escrever coloquei um pé de luz/ uma lâmpada/ luz para iluminar a mesa e me instalei decidida a ir até o fim. Hoje vou festejar o domingo. Tirei fotos das flores das buganvílias que estão maltratadas pelo vento, descabeladas como eu. E descobri três florezinhas no jasmineiro. Apesar da ventania que se superou como ventania estas flores resistiram. Resistir é uma boa palavra. Escrever é outra palavra ótima.  Confidenciar também é muito bom. Ler ler ler é mais difícil, até entrar no texto. A leitura é uma viagem, e nem sempre estamos dispostos a nos mover, nem encontrar caminho, jardim, soluções. Leitura transporta, resolve, abre, aperta, estrangula, sufoca, e depois faz a pessoa respirar. Saímos outros/diferentes. Mas nem sempre estamos dispostos a mudar a coisa, a dor, o enjoo, o espanto e a estupefação. Leitura conserta, não é concerto que transporta, enleva. Não sei explicar. É arrumação mesmo. Sei lá porque pensei assim.

Devo ter um brilho no olhar. Qualquer coisa que grita: estou viva, sou feliz, tenho amor voltas internas, caminhos que nem eu sei, deve ser a tal esperança. Elizabeth M.B. Mattos – Torres, agosto de 2017

fora do lugar

… algumas coisas caem/saem do lugar/ somem/desaparecem … certos sentimentos perseguem um nada que se manifesta inteiro e forte. Há qualquer coisa de trágico e ridículo ou aviltado nos desencontros. Não compreendo. O sentimento descolado da rotina diminui e o da exceção se impõe. Olhar e tocar importa. Por que mentalizar e abstrair? Agarro a serenidade do vazio. Louca lucidez derrama o que importa. Não escuto a voz, não vejo a sombra, nem sinto o perfume nem o cheiro, … nenhum odor. E, no entanto os fantasmas me rondam. Estas estranhas sombras vivas.

…penso que ser criança e ter jardim, ou quintal muda a dimensão da infância. E a liberdade de ir e vir, entrar e sair, conhecer tanto a casa como o gramado. As calçadas, subir nos muros, nos telhados, fez toda a diferença! Vontade de estar/viver outra vez na Victor Hugo, estar/viver outra vez na André Poente, estar/viver outra vez na Viúva Lacerda, ou na Macedo Sobrinho. Na Travessa Canoas, ou na Léo Kraether, ou ainda na Independência, devo ter esquecido a Prudente de Morais e a Santo Inácio, como esqueci a Hilário Ribeiro e aquela rua de Petrópolis, ah! a Farias Santos que termina na Itaboraí. Atravesso ruas praças e vou de bonde, mas desço do ônibus. Entro no cinema Ritz, e saio do Municipal. Fui a praia no Leblon e atravessei Copacabana, vi o Cristo Redentor da Viúva Lacerda. E eu volto para dentro de mim mesma. E me instalo na rua Brasil pensando na José Picoral – Torres. De lá, posso ver as baleias que chegam em agosto e a Ilha dos Lobos se agita/ salta/espuma o movimento do mar. E toda a maresia que entra pelas janelas molha meus cabelos.  Danço abraçada pelos meus braços todas as canções. Depois de tanto tempo sinto saudade  do amor. Depois de tanto tempo não consigo envelhecer, estremeço como uma menina… E volto para Recife  vou encontrar Francisco. Ou quem sabe Flávio Tavares vem mesmo tomar chá no Morro do Farol? O amado amor, certo. Elizabeth M.B.Mattos, Torres, agosto de 2017.

PEDRO E EU RIO de Janeiro

EU EU CASA DE SANTA CRUZ DO SULBOTANDO A mão nos ócupas um pouco do dentegustavo py gustavogustavo18