ritual de medo

História pequena. Ritual de entrega e medo. A desordem interior projeta sombra corajosa, cinzenta, azul. Quando a brincadeira termina a idade o tempo a memória o instante aquela graça, o gesto… Voz e gesto desaparecem. Não sei o que quero. Medo de quebrar as coisas. Acho que vou voltar para a calçada e caminhar… Você mencionou outra vida… Não sou eu na outra vida, e esta vida, a de agora, está atrapalhada, difícil, estranha! Tão qualquer coisa que eu não sei… Acho que fomos desatentos, distraídos ao  nos vermos. Passamos um pelo outro, e não nos olhamos nos olhos.

Ah! você não sabe! Temos cada dia uma vida!

Maravilha pensar isso: uma das tuas vidas faz parte de uma das minhas vidas… E sinto vontade de chorar. Chorar lágrima mesmo. Lavar tudo tudo com muita lágrima dentro do teu abraço, e ser pequena, ser criança e aprender, apreender tudo outra vez, outra vez, de novo fazer as coisas com atenção e cuidado. Não quebrar nada, sem distração… Conta, explica, diz em qual das vidas estivemos juntos? Você duvida? Você conta das lágrimas, e me parte o coração…

Chorar é lavar a alma. Ah! Eu sei.

As coisas quebram, lascam, saem pedaços das coisas… Elas se estragam. não são para sempre, é verdade. Escondem um tempo de ser…, e naquele tempo, foram perfeitas. As pessoas também foram/são perfeitas e passam. Perdem pedaços, mudam e  ou se mutilam, ou são mutiladas. A terra, a terra se transforma. O que era mar vira terra e as árvores mudam de lugar. E o verde fica rocha. Muda. Estranho sentir assim tudo misturado. Oxalá tivéssemos mesmo muitas vidas!

Nós temos! Cada dia uma vida. Um dia é pequeno para este sentir. Ínfimo e lábil como você disse, eu traduzo: efêmero, escorrega facilmente, fugaz, transitório. Não quero um dia, não limite, mas o para sempre. Quero uma vida no quente do abraço do beijo da quietude cinza de um dia cinza e bem grande! Escondida nesse abraço. Elizabeth M.B. Mattos – Torres, setembro de 2017

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