Quando se perde alguém a pessoa perde um pedaço do próprio corpo. Quem amamos guardamos dentro … Presença leve, constante, sanguínea. A memória traz de volta no tempo, o tempo. E aquele teatro e aquele jogo de estar/ ser com outro se repete na dança de feitiço, de magia. Desdobra-se o gosto o tato no cheiro do cipreste, da lavanda, no silêncio do fogo: você aos poucos esmaece com os pensamentos como espelhos. Eu perco o controle; percebo -te em mim. Elizabeth M.B. Mattos – Torres, setembro 2017
” Continuei a ler, tendo os pensamentos a respeito dela sempre na sombra da minha consciência, de vez em quando esses pensamentos se revelavam, ela tinha morrido, ela não existia mais, a minha avó, minha avó querida. Eu não a tinha conhecido, mas o que significa conhecer outra pessoa? Eu sabia quem ela era, o que ela representava para mim, e tinha sabido desde a minha infância. E era esse o sentimento que me preenchia naquele instante, a presença repleta de ternura, o olhar dela. Que desespero pensar que havia deixado o mundo para trás apenas porque o corpo não a obedecia mais, porque o corpo negava -lhe o que havia de mais elementar. Eu precisava escrever a respeito disso, precisava escrever a respeito dela. Me levantei, sentei-me em frente à escrivaninha e escrevi o texto.
O SILÊNCIO
Com os olhos longe dos dias você aos poucos esmaece
Com os pensamentos como espelhos eu perco o controle percebo-te em mim
Noites doces caem em mim. A escuridão adentra meus olhos.
Quero voar. Quero crer em milagres
Percebo -te em mim. Evito a luz e a sombra. Quem sabe o que você vê. Quem sabe o que pode acontecer. O silêncio, o silêncio cresce depressa. Os dias se perdem, desaparecem sem deixar rastros. Estou sempre acordado, à espera percebo -te em mim percebo – te em mim. ” Karl Ove Knausgard – A Descoberta da Escrita – Minha Luta 5 – (p.274-275)

Francisco Brennand
Que foto linda!
Enviado do meu iPad
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