entreaberta

…, comi com fome, delícia! Exagero no alho, na cebola. Batata com casca. Crocante … e, lembro o churrasco, costela, maionese feita em casa, ambrosia doce português goiaba, … cebolinha em conserva. Uma associação com vida na/de bandeja … e juventude. Gravidez inocente. Languidez de vinho …

Não quero mais cozinhar nem mesmo para o amado, mesmo amando muito (que perdoe o amor!). Nem os netos entram na lista. Quero morar num hotel, e ser servida. Ter cães e gatos … e, olhar verde, sem azul … o verde. Quieta. Silêncio e pausas. Grande vazio. Sem telefone, sem música, sem comer … talvez, mergulhar no rio, no mar. Nunca piscina. Odeio piscinas mornas. Mentira dizer que vou mimar, e ser e acontecer … não vou.  Excesso. Estou cansada, um pouco triste! Sem motivo. Estou. Possuída por um egoísmo bem particular, grande … ah! Se alguém pudesse fazer tudo por mim! Até pensar … Deixo a porta entreaberta. Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2017 – Torres

PORTA AMARELA com folhas

Foto da Luiza M. Domingues  – 2017 – Alagoas

teu jeito de dizer

luiza e danúbio

“ … expressão dos olhos da mãe, … o mundo de dentro que ela tem … de que dentro ela veio … tu és o amor em forma de pessoa” (tu/você)

Um texto se derrama no outro. Imagens a conversar sem voz. Estar estou estamos ( … ). Claro que choro, choro porque sinto saudade. Saudade indefinida da possibilidade do podia ser que se anunciou e se apagou, … não estás aqui não estás comigo, ainda não cheguei … não terminou. (…)  Não estou no teu olhar porque não estamos tu e eu juntos.

Eu te conto:

Sigo o caminho da lagoa. Hoje de manhã azul, e o dia era azul, muito azul. Agora venta, venta bastante. …, sinto vontade de estar, de voltar ao começo do ano, ao começo de amar, … agora é o que ficou, o fim, o ponto. História acabada. Tu e eu sem sermos nós. Despedida que se estica se alonga se espreguiça, e chora. O vento leva a voz, leva lembrança, leva tudo. Carrega areia folha, este vento. Liza Beth Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2017 – Torres

 

luiza luiza tão luiza

 

 

seguraste a lágrima

…, poema palavra, teu olhar inclinado. A doçura devolve o riso. Volto ao teu abraço outra vez, outra vez tuas mãos. E escreves:

“  Legítima querida do tempo de querer

e ainda

Não são apenas palavras soltas, são pensamentos de sentimentos a brotar, e que saem pela ponta dos dedos ...

és tu a me escrever.

“Gosto muito de ti, mais do que possas imaginar ou sonhar.”

És um pensar, o pensar que me acorda …

“…, quero me afogar em ti” 

quando tu me encontraste estavas iluminada

“gosto de estar contigo, de conversar, deste nosso ficar …

Precisas desabafar e não deixar o corpo sentir.” 

…e, o tudo mais. Depois de te escutar é mesmo fantasia. O corpo se arrepia sente se abre, e se entre… Mas, sendo corpo, acorda. A lembrança tem um pedaço de mel outro amargo e outro vivo… Não sei bem o que lembro e o que esqueço neste avançado setenta anos que lacrimeja. Eu te penso. Elizabeth M.B.Mattos – novembro de 2017

amei a rochapedras e chão e areia

Fotos de Luiza M. Domingues – Alagoas 2017

a escrever

Volto a escrever porque já não sei o que fazer que não seja lavar louça e pensar, aspirar outra vez, arrumar camas, beber um chá? …empurrar o sono. Acordar. Este vinho Carmenere (desta uva não gostei). Não gostei, ou gosto?… Não sei. Vontade de comer doces: tenho logo que beber água e mais água. Ver o mar, olhar o mar, estar no mar e esquecer esta coisa de casa a ser perfumada. Deixar de polir e lustrar. Apertou a garganta, e sigo sentindo o cheiro do pó. Se eu pudesse colocar tudo no sol a esquentar! Esquecer dos cheiros! O sol limpa. Eu me sinto escrava enquanto lavo e estico. Outro sentimento desta liberdade maldita. A fazer. Se não faço? Bem, não sei. Escrevo. Outra loucura seria mudar de casa. Tão simples! Esvaziar tudo e limpar, pintar… São os livros que acumulam pó e cheiram. Ou sou eu com este meu olfato ativo, bem sou eu com o jeito de ser Liza Beth Elizabeth ou Eliza seria melhor. Sou eu tão distraída!  Não sei. Respiro primavera, cheiros se acumulam e me perseguem. Volto para As três mortes de Che Guevara! Estou a contar as minha… Quantas eu tive? Ainda não todas: falta uma. Vou caminhar… Elizabeth M.B. Mattos – outubro de 2017 – Torres

com flavio

impacto amoroso

…, ciúme da memória – impacto amoroso. O que foi vivo em paixão com entrega arrasta a pessoa para o inferno amoroso. De lá espio o desejo da eternidade, do para sempre. Vivo a conversa que não termina. Agarro este amor de te amar. Volto as falas intermináveis do monólogo: um ouve e o outro escuta: adormecemos abraçados. Sem resposta, sem registro importante …, um corpo apertado em outro corpo.

Adoro o dedilhar do piano, e o som interminável de teclas, de cordas em sonatas noturnos concertos que fervem e povoam. Ordenam, nenhum possível conserto deste desarrumado …  Estou outra vez apaixonada enterrada na cor do amor … o que faço agora? Lembro esqueço deixo acontecer? Penso desmedidamente enlouquecidamente: mente e corpo. Lógica, fantasia … bom que o som do piano me faz voltar… adoro Chopin, ou Mozart, ou Haydn, ou Beethoven … volto para a música. Hoje não tem vento. Abro a garrafa de vinho e o prazer … Gosto de ser livre e de estar amarrada. Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2017 – Torres

 

grandes amores nunca terminam, mudam de lugar, se sacodem, mas estão lá sentinelas Elizabeth. MB. Mattos – novembro de 2017- Torres

não lembro dos sonhos

, … animais especiais além dos cães – gatos e cavalos – aos pés de São Francisco de Assis. Se eu te sonho é porque existes … E se existo é porque sei que existes. Estamos/ somos, ora essa!  Esta coisa de pensar é muito complicado! Bom que a Ônix me entende porque me sente/percebe … Então, … viver é apenas continuar a ser eu mesma e ponto. Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2017 – Torres

” O fato de uma pessoa não se recordar de seus sonhos não significa que não sonhe. É, principalmente, uma questão de prática. […] Não me lembro nem mesmo – pelo menos, não no nível consciente de percepção – no que fiz na quinta-feira passada, às 16h35. Teria de dar uma olhada no meu calendário para me lembrar do que aconteceu.

Além disso, tenho tendência a me lembrar de coisas em lampejos, não em detalhes específicos. Ou será que os lampejos é que me ajudam a me lembrar dos detalhes? […]

A recordação dos sonhos é uma arte que pode ser cultivada durante um certo período. Sonhar é um aspecto importante de nosso processo de criação de imagens, mas não é o único. […] […] as imagens são mais poderosas por causa da reação emocional que evocam em você. Elas transmitem mensagens não-verbais cuja lógica você pode registrar e identificar mesmo se  o seu sentido não ficar claro desde o início. Elas atingem todos os sentidos simultaneamente, estimulando respostas intensas e profundas contra as quais você não dispõe  de muitas defesas intelectuais. […] Por ora, só quero que você reconheça o poder das imagens e que perceba que sua construção é uma tendência natural. Sonhar é apenas um aspecto dessa atividade universal. A atração que sentimos pelo processo criativo é instintiva, espontânea e inata; elaboramos imagens e reagimos a elas porque temos de fazê -lo. As imagens nos atraem, exercem uma influência irresistível, lembrando- nos que somos aquilo que sentimos, não apenas aquilo que pensamos.

Para reforçar:  as imagens são mais poderosas do que as palavras porque põem em jogo a totalidade, não apenas uma parte do self. ” (p.91-93)

Sandra G. Shuman  A Fonte da Imaginação – Editora Siciliano,1994 – São Paulo

gatos cavalo e sapo