entre nós, o muro

Estranho como o desejo se esconde, ou se expõe latente: não importa se sentes ou vês ou explicas. Não queres, rejeitas. Não importa. Os caminhos são mesmo cruzados. Se eu olhar nos teus olhos vou saber. Depois, depois, depois cada um pega seu rumo e sua voz e seu desejo e segue.

Carta mensagem bilhete verso, ou divagações! O que há para ser dito / narrado ou confessado. Escrevo / caminho pelas beiradas. Eu me perco no abraço no beijo e deixo escapar suspiros! Já como se despedida fosse, nunca permanência. Desejo de querer sem saber. Gostar medroso, estranho. Imagino, afinal, é mesmo, apenas um querer/desejo.

muro na lagoa

Muro feito com  folhas miúdas que se enfiam entre rachas flores brancas. Muro de frestas: vegetação selvagem tomando conta. Muro que se colocou/ postou/ ergueu entre nós. Não me perguntes como foi que aconteceu, não sei explicar. Na verdade, entrei na tua vida distraída, curiosa, entregue. Esqueci de imediato a cabeça em um canto da casa, e fui buscar, é claro, teu desejo.  Voltando eu me dei conta, devagar, que ali não era o meu lugar, mas o teu sonho. Levantei os olhos e prestei atenção no teu olhar. Atento, alegre, em fresta ele também. Como gostei! Nem tu, nem eu vimos o muro. Cuidei de espiar a figueira que nascia apertada e se debruçava entre construções a buscar luz no teu terraço. Elas demoram tantos anos para crescer! Têm aquelas folhas miúdas tão verdes! E as escadas. Tantas escadas que vinham e iam, a cada degrau uma canção, um instrumento, uma melodia. Uma orquestra. E tudo estava no seu devido lugar. Assim, eu entendi que o muro faz sentido. Elizabeth M.B. Mattos – janeiro de 2018 – Torres (muro de contenção na beira da lagoa)

muro desenho com folhas

Sabe, Justine, acredito que os deuses são homens e os homens, deuses; imiscuem –se nas vidas uns dos outros, tentando se expressar por intermédio dos demais – nasce daí essa confusão aparente em nossos estados de espírito, essa intuição acerca de poderes imanentes ou transcendentes … E além disso (escute) creio que raras pessoas percebem que o sexo é um ato psíquico, e não físico. Esse acoplamento deselegante de seres humanos não passa de uma paráfrase biológica da verdade – um método primitivo de colocar duas mentes em contato, de atraí–las. Mas quase todas as pessoas se detêm nesse aspecto físico, alheias ao rapport poético que com tanta deselegância ele busca transmitir. É por isso que todas essas repetições tediosas do mesmo erro não passam de uma enfadonha tabuada de multiplicação, e permanecerão assim até que você tire esse saco de papel da cabeça e comece a raciocinar de forma responsável.’ (p.97)

Lawrence Durrell  Balthazar O Quarteto de Alexandria

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