Desencontro inesperado. Ainda aperta a hora do azul. Desgosto. A nostalgia se remexe na memória. Vou ao espelho, como recomendou um velho-novo amigo, examino corpo feições expressões e constato: envelheci, mas ainda sou. Ser o que sou me fortifica. Coragem sem desânimo. Volto aos anos de menina. Nem tudo deu certo, não toco piano como gostaria apesar de tantos solfejos e vontade. Não desenho, nem uso as tintas e os lápis que me instigam. Não danço, no entanto, alegria, música de dentro, acomodação festiva. Estou no lugar certo na hora certa. Oscilo. Transparente tanto quanto pessoa a ser tocada, exagero e te abraço. Suficientemente insatisfeita, quero mais e ser mais e ser mais e ser eu. Eu, eu, e eu, egoisticamente, eu. Desenho a casinha com chaminé saindo fumaça. Caminho de pedras com florzinhas de três pétalas, colorido de criança. Lembro da tabuado do cinco. Magda onde estão nossas bonecas de papel? Ana Maria, desenha o corpo desta aqui, já fiz os vestidos. Esta vai ser princesa. Nádia, vem brincar conosco. E corremos para a calçada onde riscamos o jogo. Moleques, meninas. Depois sentamos no muro para conversas sigilosas e bem-humoradas. Lembrar das criança enfeita a memória, e traz de volta a ingenuidade. Volto a escrever. O bairro de Petrópolis começa a existir. A rua Vitor Hugo terminava num barranco. Poucas casas. A rua era quintal. E no verão tínhamos Torres. Elizabeth M.B.Mattos – julho de 2018