azar é o meu

…, limbo existe?! Caminho escuso/escuro iluminado, paradisíaco e infernal. Inquietação ausência, e tanta presença! O azar é meu: na imaginação, na tua narrativa estou, mas não participei. É o limbo. O azar foi / é não participar. Não deixar acontecer. Ser distraída.

Mas o prazer de ouvir histórias é tão natural no homem como o prazer de ver a dança e a pantomima, de que nasceu o teatro. E que esse prazer existe inalterado, está provado pela voga das novelas policiais. As pessoas mais intelectuais as leem, com condescendência, é claro, mas o fato é que as leem. E por quê? Só pode ser porque as novelas psicológicas, pedagógicas, psicanalíticas  (que só a estas seu espírito aprova) não lhes dão a satisfação dessa necessidade particular.  Há uma porção de sutis escritores que, com toda espécie de boas coisas na cabeça para dizer e o dom de pôr de pé criaturas vivas, não sabem que diabo fazer com elas depois que as criaram. Não podem inventar uma história plausível.[…] Alegam que na vida as histórias não terminam, as situações não se resolvem e muita coisa fica no ar. O que não é bem verdade, pois pelo menos a morte termina todas as nossas histórias; mas, ainda que assim fosse, não seria um bom argumento.“(p.195-196)  W. Somerset Maughan Confissões

Confissão: página branca lisa encorpada grossa que eu chamo de limbo. Azar tristeza sorte encanto lucidez sensualidade líquida abuso gentileza feitiço e silêncio. Maldito silêncio! Agiganta o gozo o silêncio do olhar. Maldito corpo! Descreve a vida. Agora/hoje este momento poderia ser..,  não sei. Por que nominar? Por que não deixar ser? Vontade tenho de bater, estapear, gritar, surrar e… Limbo pode ser o lugar entre isso ou aquilo, o lugar onde fica tudo o que não aconteceu, não nasceu. Seguro a hora. Onde se guarda  ou se esconde a possibilidade? E penso: talvez a ideia do possível seja a essência da felicidade, se é que felicidade prazer realização paz alegria existem. E não fazer  acontecer, e não permitir, e não desejar, nem dizer seja outra ideia/forma de surrar estapear apertar arranhar, sem gozo nem culpa. “As palavras têm peso, som e aparência; só levando isso em conta é que podemos escrever uma sentença que seja boa de olhar e boa de ouvir.” (p. 51) Dobro o espanto. E repito, com duplo sentido, é claro:” […] é curioso que as nossas próprias infrações nos pareçam muito menos odiosas que as dos outros. O motivo deve ser que conhecemos todas as circunstâncias que as ocasionaram, de modo que podemos desculpar em nós o que não podemos desculpar nos outros. […] devemos aceitar o que de bom e mau existe em nós. Mas quando julgamos os outros, não o fazemos por nós mesmos, como realmente somos, mas por uma imagem que formamos da nossa própria pessoa e da qual retiramos tudo quanto pudesse ofender a nossa vaidade ou desacreditar – nos perante o mundo. […] Quantos de nós poderiam suportar que as suas cismas fossem automaticamente registradas e apresentadas como numa tela à sua frente? Morreríamos de vergonha. Bradaríamos que não podíamos ser realmente tão mesquinhos, tão maus, tão egoístas, tão obscenos, tão esnobes, tão fúteis, tão sentimentais, assim. Mas os nossos pensamentos constituem parte integrante do nosso eu tanto quanto as nossas ações,  e se houvesse um ser de quem fossem conhecidos os nossos mais íntimos pensamentos, poderíamos muito bem ser responsabilizados por eles como pelas nossas ações.” (p.62-63)  Todos os pecados me pertencem… E os teus, te pertencem. Talvez o pior de todos seja o que fiz contra mim mesma, não ir ao teu encontro. Não ter exigido de ti, nem de mim, o lúcido olhar do inviável. A confissão de  um sonho não sonhado.  Nem céu nem inferno, mas o limbo. Céus! Preciso me libertar e voltar a ter paz. Elizabeth M.B.Mattos – agosto de 2018 – Torres com sol, ainda frio. Cinzento mesmo e com sol. Talvez o início da história sem fim (sem fim, pode ser sem final, ou indefinido como o para sempre das histórias / contos para crianças), ou começo início, ou indefinido de…, a história tu sabes, eu sei, todos nós sabemos.apartamento da indepencia em plena arrumação

Significado de Limbo

No exterior de algo; margem, borda, rebordo.[Figurado] Estado do que se encontra esquecido; negligenciado ou indefinido.[Figurado] Condição de dúvida; indecisão, incerteza.[Religião] Local que, segundo o Catolicismo, estão as crianças que morreram antes de serem batizadas.[Religião] Lugar onde estão as almas sem batismo, temporariamente afastadas de Deus, até que sejam perdoadas do pecado original.[Por Extensão] Perda de memória; esquecimento.

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