o significado

O mundo ao qual desejo pertencer é, evidentemente, o mundo da imaginação.” Orhan Pamuk –  discurso da cerimônia de entrega do prêmio friedenspreis de 2005

“Mas é a imaginação – a imaginação do romancista – que dá ao mundo limitado da vida cotidiana a sua particularidade, a sua magia, a sua alma.

Na maior parte das vezes, a nossa felicidade ou infelicidade não deriva da vida propriamente dita, mas do significado que lhe damos.” Orhan Pamuk

Eu me apaixonei. Estou neste morno estado de paixão. Apaixonada, pendurada no “não existe, então eu quero”. Esta danada da imaginação! Vontade desmedida constante. Não quero estar nem ter, quero escrever. Quando Geraldo e eu casamos era verão e ficamos em Torres. Depois, já morando no Rio de Janeiro, íamos para Petrópolis serra carioca. Sítio Arapiranga, em Carangola. Éramos meninos, hoje me dou conta do quanto éramos meninos. E gostávamos de fazer de conta, de histórias… Geraldo pintava, eu escrevia, …e grandes caminhadas. E as três figueiras perto do lago sabiam de nossos segredos. Nossas vozes no silêncio. Nossas salas de trabalho! Vozes, colheres tilintando, riso, o cheiro da grama esmigalhada estavam dentro, tão distraídos éramos do mundo… Elizabeth M.B. Mattos – setembro de 2018 – Torres

PAMUKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

MARAVILHOSA ESTA

162015-09-15 15.16.20

prevalece a vontade

Empaca a vida sentires entristecidos … há medo, desconfiança e silêncio. Sem palavra, sem texto, sem explicar diminui, vai murchando aos poucos. Desencontro envelhecido. Envelhecer empurra certeza incerta, fico sem respirar. Elizabeth M.B. Mattos – setembro de 2018

 – Ando ensurdecido de silêncios. De repente qualquer palavra perde sentido, qualquer sentimento parece falso quando transformado em texto.  O insondável conflito entre sentimento, razão e suas verdades contraditórias. Só o vazio prevalece na vida que segue ou empaca, sei lá, novamente confundido pelas palavras. Geraldo Lima

sempre a mulher

Não sei bem o porquê de ter escolhido este parágrafo, ou de ter assumido assim, a culpa, a falta, a carência inteira …, eu como mulher, responsável pelo vazio, pela ausência, pela falta sem entender o porquê me sinto presa, frágil, amarrada numa insônia de amor sem amor. Talvez a chuva,  talvez o incêndio do museu (lá onde a memória queima) no Rio De Janeiro. Talvez a sensação, ou o fim.  Precariedade, morte, doença, não sei.  Sobrevivência. Hoje desceu uma coisa ruim pela garganta, uma falta maior. Se houvesse apenas uma palavra …, um  qualquer coisa, ou se eu pudesse chorar convulsivamente, se eu pudesse chorar …, mas nenhuma lágrima nos olhos, apenas arde por dentro. Nenhuma tristeza que me faça chorar, soluçar, entender. Estou tão completamente sozinha! Como diz Marguerite Duras, serei eu, apenas eu, a responsável por esta carência de amor, por este não desejo? Este não dizer. Não terá tua mão nesta história dura incoerente que me consome no silêncio … Não terás nenhuma responsabilidade? Que noite longa …, que angústia agarrada no meu pescoço! Eu me afogo. Sinto medo. Elizabeth M.B. Mattos – setembro de 2018 – Torres

Que c’ était toujours la femme, toujours, de par son désir à elle, qui devait être responsable du lien des amants. De la permanence du désir de la femme dépendait l´amour, l´histoire, le tout. Quand le désir de la femme cessait, celui de l’ homme cessait de même. Où, s´il ne cessait pas, l`homme devenait miserable, honteux, mortellement atteint, seul.” (p.109) Marguerite Duras  La vie matérielle

 

romance

Romance no meu pensamento – lembrança. Exatamente na hora de trancar / fechar a  caverna. Empurro a pedra. Sozinha não consigo. Teoria da teoria. Inútil estudar, saber ou não saber. Acometida de …, como explicar a angústia inexplicável. Olhar carinho beijo ou abraço, paciência, destas coisas necessito, não dos livros.  Um dia eu não vou ser mais ouriço, vou ser esquilo, ou mansa atenta generosa. Imagino. Fico a imaginar como seria bom ser completa, alegre, feliz. Escorrego. Talvez esta bandida idade de envelhecer, talvez o frio dos ossos, da pele, talvez esta gana de viver estes desejos inteiros mordidos, ardidos.  Talvez seja este cinzento inquieto, ou mesmo esta piação dos passarinhos no jasmineiro … Esta primavera a chegar, e a falta de sono e este pensar em ti que não se acomoda, não te esquece, não te toca, mas te sente. …, não fala, escreve diz  o amigo.

je suis le cahier bonito

Ser plural … ser tantos e tantas que posso ficar nenhum/ nenhuma. E depois desta anulação toda a vontade de nascer (ou renascer), e te encontrar inteira / inteiro. Escutar da tua voz aquelas coisas dizeres palavras generosas inconsequente amoroso. Agarrar aquilo tudo nas mãos e nunca mais soltar. A vida, se vida é isso que sinto tem urgência com cheiro, pele, desejo, sexo e fala. Falas e falas e som …, uma ciranda interminável. Depois o desejo de silêncio. Este silêncio cheio tomado ruidoso a transbordar vozes e, … sou eu, outra vez, a querer escrever escrever e te dizer, pular a proibição, ou qualquer olhar de censura. Qualquer coisa que impeça de tu seres tu e eu ser eu. Elizabeth Mattos – setembro de 2018 – TORRES

Os romances nunca são totalmente imaginários nem totalmente reais. Ler um romance é confrontar – se tanto com a imaginação do autor quanto com o mundo real  cuja superfície arranhamo com uma curiosidade tão inquieta. Quando nos refugiamos num canto, nos deitamos numa cama, nos estendemos num divã com um romance nas mãos, nossa imaginação passa a trafegar o tempo todo entre o mundo daquele romance e o mundo do qual ainda vivemos. O romance em nossas mãos nos leva a um outro mundo onde nunca estivemos, ou que nunca vimos ou de que nunca tivemos notícias.  Ou pode nos levar as profundezas ocultas de um personagem que, na superfície, parece semelhante às pessoas que conhecemos melhor.” (17-18) Orpnan Pamuk – A MALETA DE MEU PAI

estas pérolas

Inspiração de suspiro, quase silêncio. “De repente, são duas ou três horas da madrugada; as luzes ardem muito brancas […]. Apenas carros a motor estão na rua a esta hora, e temos uma sensação de vazio, de leveza, de alegria solitária. Portanto pérolas, vestindo seda, caminhamos até um terraço que dá para os jardins […].” (p.51) Virginia Woolf O sol e o peixe – prosas poéticas . Tu me acompanhas silencioso inquieto. E eu te conto das pérolas, da seda, dos carros, das lareiras acesas, das pratas, dos cristais, dos tapetes macios. E penso na vida que tivemos juntos, alegres, silenciosos e invisíveis.Elizabeth M.B.Mattos setembro de 2018 – Torres

BELA TODO DE COSTAS de LUiza MODELO