“A memória gosta de invocar lacunas. O que permanece fixo se reapresenta sem ser chamado, com nomes sempre diferentes, e ama o disfarce. Também a recordação muitas vezes fornece informações apenas vagas e arbitrariamente interpretáveis. Ela às vezes usa a peneira grossa, às vezes a fina. Sentimentos, migalhas de pensamentos acabam caindo pelas beiradas. ” (p.146) Günter Grass – Nas peles da cebola Memórias
O que for possível trazer ou levar, lavar ou esticar, passar distraída deixando para trás… A cada memória ou lembrança um esvaziamento. Lacunas importam mais do que qualquer detalhado e preenchido relatório. Arranco a dor. Estou vacinada. Distraída e saturada, transbordo… Todos os registros da casa estão devidamente apertados, fechados, nenhuma gota sai pela torneira, e na bacia cheia com água salgada os peixes pequenos, aflitos, ansiosos esperam como eu. Coloquei um pouco de areia no fundo, e algas, conchas.
Devo comprar um aquário. Gosto do pequeno peixinho vermelho, mas também dos listados. Elizabeth M. B. Mattos – janeiro de 2019