…esvaziar a alma. Enredo, narrativa, até mesmo conviver, sentir o outro, incompatível. Pensar e se expor: suicídio. O espaço vazio da possibilidade se transforma em gentileza e cortesia. Não é possível vender imaginação nem sentimento. E nem é possível transitar entre direita e esquerda. Escrever deve ser desaparecer, falar sufoca. Olhe pela janela. Não saia de casa, não abra a cortina, muito menos a veneziana. Mantenha buganvília folhuda, verde. Cuide dos espinhos. E que o jasmineiro perfume as frestas. Beba chá, e coma maças aos pedaços, ou peras. Use suco de limão na água. E que o chuveiro seja forte e quente. Mantenha os olhos fechados. Corpo entregue ao fluxo da vida, não ouça a voz, mas a melodia… Elizabeth M.B. Mattos – março de 2019 – Torres
“O romancista e poeta australiano David Malouf nos avisa que o ‘verdadeiro inimigo da escrita é a fala’. Ele alerta particularmente contra os perigos de falar sobre uma obra em andamento. Quando se está escrevendo, é melhor manter a boca fechada, para que as palavras saiam pelos dedos. […] ‘Influência’. A própria palavra sugere algo fluido, algo’fluindo’. Isso parece certo, até porque sempre visualizei o mundo da imaginação não tanto como continente, mas como um oceano. Flutuando, aterrorizadoramente livre, sobre estes mares sem limites, o escritor tenta, com as mãos nuas, a tarefa mágica da metamorfose. Como a figura do conto de fadas que tem de fiar palha em ouro, o escritor tem de descobrir o truque para tecer as águas até se transformarem em terra; até haver solidez onde antes havia apenas fluidez, forma no que era amorfo: passa a existir chão sob seus pés. (E, se ele fracassa, evidentemente se afoga. A fábula é a mais cruel das formas literárias.)” p.87-88 Salman Rushdie Cruze esta Linha.
