Demoraste tanto para chegar! Já estou enfiada nas velhas meias de lã e botei aquela casaco do fundo da gaveta com cheiro de naftalina. Encolhida, cinzenta, ventosa. Não posso mais esvoaçar nas vestes transparentes do verão. Guardei o sorriso. Chegou um danado de sono triste.
Fiz um chá, não bebi. A xícara aberta…passei um café aguado, e comi os biscoitos que sobraram na lata. As frutas encolheram, eu te conto, ainda estavam doces, meladas. Pensei que não fiz as comidas que gostas, não abri o vinho. O poema se desmanchou aos sussurros. Pensei no teu abraço, meu querido.
Demoraste tanto para chegar! Elizabeth M.B.Mattos – maio de 2019 – Torres com chuva
“As mãos têm hélice, tempestade e bússola.
Os pés guardam navios
Aparelham para o Oriente
O olho tem peixes,
A boca recifes de coral;
Os ouvidos têm noites e lamentos e ondas.
A vida é muito marítima.”
Murilo Mendes – O homem e a água