1.
gavetas perfumadas / armário com alfazema /aroma de limpeza
doce de leite feito em casa / verde mais verde porque chove.
ternura mistura abraço, exaustão e desejo.
pernas, braços, e os dedos conversam comigo:
reclamam dores sobrecarregados e machucados.
respondo com evasivas exclamações e proponho estratégias…
esqueço.
2.
frutas enchem bandejas e pintam a casa de alegria; durmo toda a tarde, a tarde inteira, embalada pelo piano na escala de teus dedos.
um gomo de bergamota, uma banana, meio abacate com limão, um bocado de mamão
tua voz, o pincel, o barro da argila.
3.
Se a palavra perdida se perdeu, se a palavra usada se gastou
Esqueço voz, nome, teus pequenos quefazeres,
sinto o cheiro da terra na tua voz e me debruço sobre os dias de falar, falar, falar…
que pressa tiveste de me dizer, e depois me esquecer, resiliência.
4.
Envelhecer traz urgência de ver / dizer /estar e fazer
Fantasiar / disfarçar / protelar o adolescente encanto de estar
E se despedir: amanhã…
Quando passas pela janela, não te chamo, se olhas, recuo, mas assustada e aflita no meio da noite, eu te chamo. Elizabeth M.B. Mattos – maio de 2019