Tentativa. Domingo dedicado a festejar os pais. Nostalgia bem própria do mês de agosto. Eu gosto: frio, inusitadamente, dentro de mim mesma, festa.
Escrever e ler, ler e escrever: um caldo. Ferve. Esta explosão se completa: larva de vulcão. Então eu me apaixono pela italiana que escala pequena/gigante aventura.
“Havia um cheiro forte de terra enxugando ao sol.” (p.68)
“[…] era o invisível que nos excitava. ” ou “ Não podia acreditar que ele fosse uma pessoa comum, um tanto baixo, um tanto calvo, um tanto desproporcionado, mas comum.”(p.59)
A enxurrada desce pelo meu corpo e o prazer assume sorriso louco de momento. Há que parar, respirar. Largo o livro dou dois passos e me entrego, ainda uma vez, outra, e a manhã não terminou. Repetidas vezes o mesmo sentir. Não basta olhar pela janela, atentar aos ruídos do edifício ou pensar na fome, outra vez. Inquieta recolho a roupa seca do varal. Penso no ferro de passar. Coloco a macaxeira / o aipim para cozinhar, lembro da cerveja que não comprei. Abro o vinho, e vou festejar o gosto da leitura. Esquecida do tempo, das confidencias, desaparecimentos, rupturas e encontros… O dia de hoje, aquele ontem festivo, a lacuna, a viuvez, os casamentos e as separações, a orfandade e o encontro, amigos, amigas. Ser criança = peso avassalador da de alegria feliz. Não importa o como. Somos a possibilidade de. Lembro da Magda, da Ana Maria, da Nádia, dos chineses que moravam na casa ao lado, dos barrancos na rua Vitor Hugo, da Marlene, dos guris, do Ping-Pong, dos muros e dos telhados, das bicicletas e das bonecas despenteadas. Das aulas de piano, de estar sempre apaixonada! Sem lógica. Escuta isso e me diz se não estou certa, se Lúcia e Mabel não estão nadando de lucidez e razão!
“ Avançamos muito tensas. Depois Lila deu um grito e riu de como o som explodia violento. Desde aquele momento só fizemos gritar, juntas e separadamente, risadas e gritos, gritos e risadas, pelo prazer de ouvi – los amplificados. A tensão se afrouxou. Começou a viagem. ” (p.68) Elena Ferrante – A Amiga genial – série napolitana – Primeiro Romance
Impressionada, agarrada no jeito de escrever solto e detalhado da FERRANTE.
Cortei conexões, voltei para me achar sabendo que não serei inteira, exposta e certa ou explícita, como gostaria de ser. Ninguém consegue ser/ ninguém é curiosamente aquilo que pensar ser: uma representação peculiar de sobrevivência e vida: vivência/experiência/ resolução/ atuação o que cabe/ou se prende dentro da idade: adorei tuas palavras Luisa! (Almoço maravilhoso deste sábado!Eu te disse que ia registrar tua conversa.)
Tempo de respirar pesado. Afinal, descosturo / rasgo o vestido para apreender a precisão. Eu me dou conta das respostas dengosas ou incertas. Até me perdoo. Das agulhas de tricô a me fazerem doer os dedos. Inteiro o sentimento e fatiado. Se confesso amor logo alguém me atropela e pergunta o porquê de dar certo ou errado, ou mais ou menos vivido, esquecido, perdoado, ou cheirosamente lembrado. Deve existir a resposta atenta certa. Hesito e penso e já vou estou com olhar vago e incrédulo para trazer/ o prazer lúcido do porquê, a explicação. Será que os grandes e perfeitos e quentes e cálidos amores terão que, necessariamente, serem para sempre? Não são. Sequer se explicam. Os amores se cortam, são podados. E se estranham e se entreolham no susto e no gozo. E se prometeram / prometem, juraram para sempre, e já não é mais nem o sempre , nem a tal da danada direção de olhar para o mesmo jardim. Aquele com rosas é o mesmo das hortênsias! Exceções. Abnegação. Aquele prazer enorme e completo, espaço aberto, um em direção ao outro, êxtase absoluto? Não. Lampejos. Comunhão? Parcial de bens de mente, ou separação total para que cada um mantenha sua individualidade no dito casamento (viver juntos ou separados por paredes e valas). Estranho dissecar o cadáver. Coisas de amor! Esta escritora italiana (ou escritor), ele ou ela, atrás de pseudônimo remexe a palavra, a infância. O começo particular sem estar na pieguice de beijos e abraços, mas no susto de viver / sobreviver. Hoje importa o esconde-esconde, o leitor se derrama na foto ou na vida particular, nas peripécias de quem escreve, não no texto, pseudônimo resolve. Aquele espiar, vislumbrar, desvendar na letra a pessoa, o indivíduo igual ao vizinho do andar de cima, ao passante daquela calçada. Complicado jogo de fazer e desfazer. E somos todos tão absurdamente iguais, dentro de um caso de visom Yves Henri Saint Laurent, legítimo, ou de uma lã escocesa, legítima. Ou jaqueta jeans, ou até sem casaco, ou nestes casacos americanos / japoneses legítimos. Os mesmos. Como os mesmos perfumes! Os odores. O certo / perfeito e instigante cheiro gente, cheiro pessoa. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2019 – Torres