começou como um erro

Estas coisas de fazer e agarrar o talento (qualquer talento), agarrar a vontade de fazer porque não fazer parece mesmo a coisa mais idiota que existe. Então faço, qualquer coisa, uma delas é escrever, outra limpar repetidas vezes tapete, fresta. Lavar louça, e descuidar de mim mesma… Exercício de esquecer, não se olhar no espelho, apenas se imaginar. Bom tamanho! Comer menos, embora pastéis e sonhos, pão redondinho, alongadinho, doce ou, qualquer um, será delícia pura, e as manteigas, todas, de preferência, sem sal, com gosto de leite, ou pode ser geleia, ou mel. Uma xícara de café, preto, não muito preto, nem muito quente, um café esquisito. Como o jeito da vida esquisita do jeito que ela sabe ser. Descobri: ricos não gostam de conviver com quem não tem dinheiro, medo de que comecem a pedir e se apropriar, incomodar a paz de ter. Viver pode ser / ou deve ser acomodar – se com iguais, nos iguais. Haja danadas diferenças e a coisa se arrepia, se agita e se assusta. Nada de muitas ou tantas ondas… Vá lá descansar em ser igual!A genialidade e o talento está plantado na loucura desta idiota procura de fazer acontecer de um jeito especial, mas o jeito, coitado, sempre o mesmo!

“Começou como um erro. Era época de Natal, e ouvi de um bêbado lá da colina, que usava esse truque todo Natal, que eles contratariam qualquer condenado; então fui, e a próxima coisa que me aconteceu é que passei a andar com uma sacola de couro nos ombros e a vagar por aí à toa. Que emprego!, pensei. Maneiro. Eles lhe davam só um ou dois pacotes de cartas, e, se você desse um jeito de liquidá- los, o carteiro efetivo lhe daria outro pacote pra carregar, ou talvez você voltasse lá pra dentro e o bolha da seção lhe daria outro, mas você simplesmente ficava na sua e ia empurrando os tais cartões de Natal pelos buracos. Acho que foi no meu segundo dia como empregado temporário de Natal que aquela mulher enorme apareceu  e ficou me acompanhando enquanto eu entregava cartas.” (p.11) Charles Bukowski – Cartas na rua

Ninguém resiste as cartas, empregos temporários, nem a pessoas carentes de voz de tato de cheiro de qualquer bobagem ou coisa importante, ou nem tanto. Nada consegue ser diferente, os mesmos vestígios. Há que ter o mesmo gosto. A força de querer mudar, o empenho, o nosso olhar lento, ou demorado. Há que se viver patinando em talentos miúdos e gigantes. Em frente. Ainda estamos em agosto, em setembro carregarei as flores, em outubro estarei completamente esquecida de que este inverno gelado aconteceu. A conta da luz será gigante, enorme, assustadora igual. Detesto sair suarenta pela rua, verdade que a opção chuveirada também é boa! Odeio / não gosto de piscinas e o mar…, bem o mar eu gosto, mas fica tão concorrido que desisto. Estou aborrecida, é claro, sucessivas investidas em leitura de romances, agora da Elena Ferrante (pseudônimo) evidencia, nada muda. Muda o jeito / a forma de dizer. As mesmas coisas sempre e, completamente, as mesmas. Os mesmos mecanismos, a boa ideia, mas o  jeito igual de abraçar o abraço. Há que se envolver o dia inteiro com a coragem de respirar e seguir em frente. Sem ideologias alucinatórias. Guimarães Rosa tem razão: viver é perigoso! Avanço. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2019 – ainda em Torres, mas irei a Itália! Na imaginação, é claro! Voltarei a te escrever. Não resisto: tanto te espero! Começou com um erro. Eu te amo no meu engano. Não tem mais importância. Acordo, e me lembro de ti, e te procura na contramão da minha vida e te amo, diferente de como amei antes o jornalista. Tão diferente! Maior. Simples assim. Como a Ferrante, como Bukowiski, um dia eu conto, só pra contar as mesmas coisas que as pessoas contam… Cartas, poemas e fantasias reais, absurdamente verdadeiras, o meu conto de fadas, os muitos (risos), hás de me compreender. Todas fantasiosas.

quando voltas

Quando voltas, eu me ilumino. Alegria cintila. Corro ao teu encontro. Abraço forte e me deixo ficar. Seguras o meu rosto. Olho nos olhos. Castanho sereno este abraço. Espero e espero e espero! Caminhamos em direção a lagoa. Beleza domada. Lembras como era no tempo de meninos? Rimos. Nosso abraço  faz o caminho. Chegamos na praça: a Serra do Mar desenha o horizonte. O cheiro perfumado do silencio. Em casa: janelas abertas. Todo a luz do mundo ilumina nosso beijo. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2019 – Torres

risco de lua

O frio me enfeita / embeleza, / deixei a porta entreaberta

Comprei rosas, margaridas.

Enfiei as calças mais velhas,  blusão azul do fundo da gaveta,  tênis de jardim e caminhei entre eucaliptos até chegar a porteira…

Não sei deixar de nos esperar… Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2019 – Torres

lindaaaaaaaaaaaaaaaa

 

agosto gelado

Diz / repete mais uma vez o caminho atrapalhado, esboço ou desenho, amontoado de palavra de um agora inusitado. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2019 – Torres

 

1.

 

Todos os dias é   =   a nenhum dia. Óbvio incerto. Particularidades? Suponho / acho / penso: somos iguais. Sublinhado fato. Identificação comezinha. Lugar / ponto /estação diferente, mas a mesma manteiga, o mesmo leite aguado ou não, o mesmo pão dormido. Ou saído do forno. As mesmas laranjas e as mesmas bananas. E lá vou tentar, outra vez, ser autobiográfica. Pedaço de montanha, outra de lagoa. Buganvílias, gramado, um cão. Natureza igual, aparência diferente. Sentimento, o mesmo. Classificação por conta de especialista. Desejo igual ao que desejas: somos iguais. Isso apraz. O começo, uma vontade. Nascida na rua Vitor Hugo 229, Petrópolis, Porto Alegre. Jardim jacarandá e quintal. Abraços e beijos na conta das mamadas, do fogo das lareiras, das risadas. Do silêncio festivo atrás da porta fechada, e do escuro do quarto: arrulhos latidos difusas vozes miados. Depois atravesso a calçada. Mergulho na piscina do Tênis Club, ou vou comprar balas no Bar Tupi. Telhados, outros quintais, bonecas de papel, tampas de garrafas, rolhas, azulejos em lascas, corda, bola.

 

  1. Amigos cuidam, incitam a escrever: para eles, palavras e aquela vontade toda de desnudar, ser aceita, ou voltar.

 

  1. Setenta anos com evidências. Alguém vai corrigir: setenta e dois em setembro. Setenta e três? Sou de 1946. Setembro.

 

  1. Amontoado confuso de emoções. E o Amoras, amor exigente galopa. Hoje dia gelado. Amanhece no gosto bonito do sol. Demorei a sair da cama. Quase oito horas. No verão volta inteira na lagoa. Inverno ponte e sol, o limite. Café preto. Lavo a louça da preguiça, deixo outra no balcão. Vou escrever. Lá vai a fumaça azul, como disse, o amigo. Pedra solta sinal voz e cheiro. Não te espanta, sigo tua palavra. E corro atrás de mim mesma para costurar minha sombra, como Peter, o menino que não queria crescer e vive na Terra do Nunca. Corro atrás. Persigo estórias e histórias. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2019

amante amado

Não consigo mudar o formato. Igual digo e sublinho. ”Alguma coisa vibrou no coração de Constance: ‘Sou pela democracia do contato, pela ressurreição do corpo!’ Embora não soubesse o que isso queria dizer, fez – lhe bem a frase, como acontece com muita coisa incompreensível.”(p.90)

Livro / leitura revirou alma e corpo. D. H. Lawrence O amante de Lady Chatterley – outro século, outro mundo, mas a alma, a mesma. Amante amado. O que somos no melhor, ou no pior: amando o amor do amado: igual. E.M. B. Mattos – julho de 2019

“- Mas a impressão de um contato pode durar tanto tempo assim? – perguntou Constance de súbito. – A senhora o sente até agora…  – Oh, madame, outra coisa pode durar tanto como a lembrança do sentir, do contato? Os filhos crescem e nos abandonam. Mas o homem, ah! Mas mesmo isto os corações duros querem matar na gente: lembrança do contato.Até os nossos próprios filhos! Quem sabe das coisas? Nós poderíamos ter nos separado, mas o sentimento é coisa diversa. Melhor talvez seja não gostarmos de ninguém. Entretanto, sempre que vejo essas mulheres que nunca foram aquecidas por um homem, tenho a impressão de ver corujas, pobres corujas, por mais que se enfeitem e corram atrás da vida. Não. Nada me faz mudar de ideia. Não tenho grande respeito pelo mundo.” (p.188)