será que virá?

Cinzento dia cinza que amanheceu  e se esquece de ser dia. Não me entristeço estou sol. Acordei arrumando, limpando e me excedendo no café a pensar gulodices e prazeres. Preguiçosa nas leituras, lenta e lenta. Agitada com a vassoura, com lava isso e aquilo (neurose dos cheiros, adoro alfazemas e flores). Vou comprar um ramo azul ou amarelo na feira livre de sábado, vou colorir nas frutas e claro, encerar e polir. Das bobagens envelhecidas fica uma memória que acorda brejeira, e depois do café, se esquece do trágico. Importa se debruçar no imediato da calçada. Ah! Que trabalho tenho para não esquecer, anoto aqui, ali e vou empilhando a memória. E as citações pontuadas não te levam pela mão: esqueço no livro, o último da pilha, mas te digo, estão na correspondência de Sigmund Freud e Anaïs Nin e Miller (Correspondência de paixão) e interrompo o fluxo para responder as cartas que chegaram. Agradeço e festejo! E me divirto antes de passar os lençóis, já com a máquina a funcionar. Sinto paciência no olhar manso da Ônix, eu me agito antes da chuva cair,será que virá? Tanto a necessitamos. Elizabeth M.B. Mattos

“ Se você vier mesmo aqui, provavelmente em primeiro lugar será atraída pelo que cativa a maioria das pessoas de forma exclusiva: o brilhante exterior, as multidões apinhadas, a infinita variedade de mercadorias expostas de modo atraente, as ruas que se estendem por vários quilômetros, a profusão de luz à noite, a alegria e a polidez geral das pessoas; mas para pôr tudo isto em harmonia com o resto tem – se que conhecer muita coisa.” (p.223)  Sigmund Freud

Correspondência de Amor e outras cartas) 1873 -1939

 

Freud

túnel do tempo

Olha o tempo, o pai é aquele apoiado na perna do meu avô

O meu pai é aquele menino que está com a mão no joelho do meu avô Pedro Alexandrino. E neste recorte volta a vida, ninguém se preocupou com o passaporte português… A vida tem desvios, chamamos de caminhos… Atravessamos bosques / florestas e nos deixamos ficar atraídos pela paz de apenas existir, imóvel. Elizabeth M. B. Mattos –  setembro de 2019 – fragmentos

verdade bem grande

“Diego. É uma verdade, bem grande, que eu queria falar, nem dormir, nem ouvir, nem querer. Sinto – me encerrada, sem medo de sangue, sem tempo, nem magia, dentro do teu próprio medo, e dentro da tua grande angústia, o mesmo no ruído do teu coração. Toda essa loucura, se a ti perguntasse, sei que seria, para o teu silêncio, pura confusão. Peço – te violência, na desrazão, e tu me dás a graça, tua luz e calor. Gostaria de pintar – te, mas não há cores, por haver tantas, em minha confusão, a forma concreta  do eu grande amor. F. “(p.205)

Frida Kahlo O Diário – um auto-retrato íntimo