Morar no hotel, caminhar o passeio, e amar a luz. O nosso poeta.
Amor não vai, estaciona na palavra: “Buenos Aires, maio 199…Elizabeth, gorda amada: Estou perdido no mundo. Não sei sequer que horas são, meu relógio de pulso, sem pilhas não me deu o norte do mundo. Estou sozinho no meu apartamento (no meu, no nosso). Sei que é de tarde pela inflexão do sol. E que muito tarde porque estou famélico e o frio aperta mostrando que estou sem me alimentar. […] escrevo – te na mesa da cozinha, no pouco que aqui restou intacto. Creio – creio – que eu também restei intacto.Intacto, mas começo a sentir o tiroteio. Ontem recebi tua enxurrada de cartas […] ” Transcrevo, uso reticências e vou dormir. Chove. Elizabeth M.B. Mattos – outubro de 2019 – Torres
Carlos Nejar – “Tive com Quintana um relacionamento fraterno. Mais antigo e sem idade do que eu, talvez minineiros ambos, […] Certa vez ao mostrar – me um poema, cometi a desfaçatez de corrigir as suas reticências. Dizia – lhe: Mário, o que está nas palavras não precisa da muleta das reticências! O mistério está nas palavras. E ele argumentou que as reticências são cercas. Cada campo tem a sua cerca […].”
Estou a olhar o trovejar cinzento e pesado, a reler velhos jornais, janelas abertas. Gostei das cercas. Mário Quintana: “a bomba abriu um belo buraco no teto, por onde o céu azul sorri para os sobreviventes, a mote é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos”. Amar tanto muito e esticar. Coloco um ponto. E já posso amar outra vez. Trovejar relampejar e descobrir o novo a brotar do alerta. Juventude menina. Confiáveis olhos castanhos.Tão pouco poder de decisão em relação ao que não acontece! Tão pouco! Céus! Desisto. Acumulado de coisas desistidas. Mais uma, menos uma, que diferença faz? Sobrevivi. mas os fantasmas se enfiam dentro de mim, às vezes, fico sem saber o que fazer deles. Invento palavras, todas que deveria ter dito e não disse. Elizabeth M.B. Mattos – outubro de 2019 – Torres