velha

“Estou sempre aqui, responde ele. Do que se depreende que esta cidade onde ela se encontra. Onde o guarda do portão nunca dorme e as pessoas nos cafés parecem não ter para onde ir, nem outra obrigação além  de encher o ar com suas conversas, não é nada mais real do que ela: talvez nem mais nem menos.”

Estou mesmo aqui, estacionada. Não estive na rodoviária, muito menos no aeroporto. Não abri as janelas ontem, e hoje seguem fechadas. Não passei a roupa, mas lavei os lençóis e a louça. Conversei bastante com a amiga tão bonita, tão mais jovem tendo assim mesmo a mesma idade, a minha. Não abri envelopes, as cartas não chegam pelo correio. Nem encontrei mensagens. A rotina que salva, a rotina que liquida, a vida no passo descritivo, engasgada em perguntas. Quem sou eu? O que estou mesmo a fazer?  Digo do movimento de todo o dia, o mesmo, e nenhum dia. Qualquer dia.

Sou escritora, uma mercadora de ficções, diz o texto. Tenho apenas crenças provisórias; crenças fixas me atrapalhariam. Mudo de crença como mudo de casa ou de roupas, de acordo com minhas necessidades. Com base nisso – profissão, vocação – solicito minha isenção da regra de que ouço agora falar pela primeira vez, a saber, que todo requerente do portão tenha de ter uma ou mais crenças.” (p.216)

“Desacato à corte. Está chegando perto do desacato  à corte. É uma coisa de si mesma que nunca apreciou, esta tendência a explodir.” (p.225)  J.M. Coetezee – Elizabeth Costello 

Também detesto fechar / terminar a leitura de um livro que conversa comigo! E responde ao silêncio. Ao que acontece no mundo hoje e agora. E junto comigo sofre. Estupefato com este agora. Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2019 – Torres

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