“Um segredo muito simples: o amor. Tudo o que nos fascina no mundo inanimado, os bosques, as planícies, os rios, as montanhas, os mares, os vales, as estepes, e mais e mais, as cidades, os edifícios, as pedras, ainda mais, o céu, o pôr-do-sol, as tempestades, e muito mais, a neve, a noite, as estrelas, o vento, todas essas coisas, em si vazias e indiferentes, enchem -se de significado humano porque, sem que o suspeitemos, contêm um pressentimento de amor.” (p.127)

“Compadeçam – se: é exatamente isso. Sem que saibam, o chamado subsiste mesmo naquelas carcaças ainda cheias de vida; elas tem sessenta, setenta, oitenta anos, são senhoras honestas e respeitáveis, morreriam de vergonha se pudessem imaginar o que as leva de cá para lá no mundo. No entanto, se nas viagens não houvesse aquele vislumbre romanesco e inverosímel, jamais se animariam sair de casa. Perambular de fronteira em fronteira, de hotel em hotel, tornar – se ia um verdadeiro suplício.“(p.129)
Dino Buzatti Um amor