Este silêncio total,
Ausência infinita
De qualquer sinal
De Deus – o Criador? –
A presença dos homens:
Sábios, cientistas, estadistas,
-alguns bondosos até! –
Mas, ateus, racionalistas,
E um grande aturdimento,
Um ranger de dentes permanente,
A descrença fatal chegando…
Cansaço, cansaço, cansaço…
– Qual será a dor de amanhã?
A morte tão temida,
Agora é longamente desejada;
O nojo, estampado na face
E alguém a perguntar:
“Por que estás tão triste?”
O sorriso sem graça
Querendo esconder a angústia
Que racha o peito da gente
Vontade de blasfemar?
A emoção, o desespero,
O próprio medo de blasfemar
Não serão somente a moldura
A realçar o ridículo
Da nossa própria vida?
Oh! a ausência de Deus,
Deixando -nos à nossa própria mercê!
Não há castigo maior. Hélio Bessa
[…] E cansamo – nos da vida
Porque nada acontece
Que faça vibrar nossos anseios verdadeiros
E, melancolicamente, pensamos
Em tudo o que poderia ter sido
E não foi.
E porque nada acontece
Que nos arrebate para sempre
Deste cansaço, deste vazio,
Passamos, desconfortavelmente,
A acreditar que o evento
Mais importante
Seja a nossa própria morte. Hélio Bessa