” Nós hoje troçamos muito dele: está apaixonado”

Sim, seremos todos esquecidos. É a vida e nada podemos fazer. O que nos parece importante, grave, pesado de consequências, um dia será esquecido e deixará de ter importância. (Silêncio) E o curioso é que não podemos saber hoje o que um dia vamos considerar grande ou importante, medíocre ou ridículo. As descobertas de copérnico, as de Colombo, não terão parecido, parecido, de início, inúteis, ridículas, enquanto se tornavam as elucubrações de um fenômeno qualquer pela própria verdade? É bem possível, portanto, que esta nossa vida de hoje, à qual emprestamos tanto valor, talvez seja um dia  considerada estranha, desconfortável, sem inteligência, insuficientemente pura e – quem sabe? – até mesmo culpada...” (p.25-26)  Anton Tchekhov As Três Marias – Contos

Sim, seremos todos esquecidos, ou lembrados na pequena/íntima história pessoal. Se o certo ou o errado se espatifou…estranhamento. Penso, penso lá dentro, cada um se coroa rei, e a cada um sua pequena grandeza, e  ou, a cada um sua pequena miséria. Na caminhada, olho para o prédio na sua ideia majestosa agarradando a lagoa, a Serra do Mar, ou o mar… A construção cheia de boas e formosas ideias. E a secura particular de um engenheiro, sonho de arquiteto? Não sei. E lá estão visíveis as roupas do vizinho secando no meio da sala naqueles secadores de alumio… E me parece tão impróprio  que alguém pendure suas roupas no meio da sala! Hoje não priorizam áreas de serviço, associam a não sei o quê da vida, do fazer: limpar e secar, confraternizar. A modernidade integrada: cozinhamos na sala, ou esquentamos a marmita, ou a comida chega pronta do restaurante…, enquanto nos refestelamos em grandes sofás, televisão ligada. Ou. Pode ser simplicidade, romântico “nossas roupas comuns dependuradas“. Ou mudou tudo: somos assim, simplificados. Podemos nos esparramar na areia da praia com um biquíni mínimo, ou um maiô bem tapado, ou bermudas, ou mesmo um vestido decotado: as pernas no mar, sandálias na mão e cabelos ao vento. Comemos e bebemos debaixo do sol.  E nos sentimos cosmopolitas, gregários, integrados, socializados. Então! As roupas íntimas voando pelas janelas ficam até pitorescas, como se vivêssemos num recanto da Sicília, na bela Itália. Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2020 – Torres

luto

O luto remete/faz pensar na perda, no símbolo, na cor preta. Retira alegria, devolve inquietação. Austeridade. Recolhimento. Silêncio. Eu possuía/era dono de alguém, de alguma coisa, de um sentimento, de uma flor, e de repente, terminou, acabou, deixou de existir. Deflagrou-se enorme e gigantesco vazio. Estou no meio do nada. As palavras saíram correndo e se esconderam, não querem dizer coisa nenhuma. Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2020 – Torres

Não espero ser decifrada, entendida, ou desejada. Nem saber, nem acumular. Não vejo. Estou algemada, amarrada no meu mundo… E eu sei que eles não podem me ver, estão trancafiados/amarrados, (posso dizer limitados?) ao mundo deles, dito colorido, tão inconsistente. Tão diferentes somos! Estranho beber no mesmo copo.

coisas de memória entrega e trabalho

Miller

Depois que nos livramos do fantasma, tudo segue com infalível certeza, mesmo no meio do caos.[…] Em tudo eu via logo o oposto, a contradição, e entre o real e o irreal via a ironia, o paradoxo.” (p.11) Henry Miller – Trópico de Capricórnio

Experiência, vivência fechada nela mesma.  Posso lembrar  em/com detalhe o dia da/na pequena e luxuosa galeria: devorou, engoliu… E eu fui feliz. Agarrada no prazer, e entregue ao trabalho, eu me espelhei na arte dos mármores, do ferro, e da madeira. Estava com Xico Stockinger.

dedicatória

capa livro importante

Ado Malagoli

Depois que nos livramos do fantasma, tudo segue com infalível certeza, mesmo no meio do caos.[…] Em tudo eu via logo o oposto, a contradição, e entre o real e o irreal via a ironia, o paradoxo.” (p.11) Henry Miller – Trópico de Capricórnio

Experiência, vivência fechada nela mesma.  Posso lembrar  em/com detalhe o dia da/na pequena e luxuosa galeria: devorou, engoliu… E eu fui feliz. Agarrada no prazer, e entregue ao trabalho, eu me espelhei na arte dos mármores, do ferro, e da madeira. Estava com Xico Stockinger.

ITAMARA

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artes e oficio capa

pequena alegria

Por qualquer fresta aflição / angústia ou tristeza se espalha este sentimento de…
Todos os dias, em todas as horas de sol/com sol, eu me recomponho: passou!
É hora de flores frescas e coloridas no vaso. Empilhar sentimentos. Lustrar as maças. Limões na cesta: o perfume da casa… De volta a pequena alegria. Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2020 – Torres
branco e preto na mesa

medo, palavra e a chuva

Não posso ter medo da palavra, nem do pensamento, nem do esforço / ou do tempo para compreender. Eu seguro, agarro com força cada olhar para depois ficar a desvendar… E o tempo que fica enorme / avassalador se derrama diante dos meus olhos. E é tão pouco! Dos sonhos sonhados, porque desejados, ainda espero as respostas. Estou lembrando da minha amiga que escreveu / ou me disse que envelheço diante do espelho. Talvez pelas fotos. Lembro de Doris Lessing… algumas leituras me arrastam com tanta força,fico esfolada. Hoje vou medindo o tempo das leituras, o tempo de escrever, e lá está, altivo, o medo. Hoje rasguei uma foto, Isso me impressionou. Quando lembro das conversas com Iberê, das angustias e dos desastres que a vida lhe deu, estremeço. Na verdade, a cada um sua temporada de cárcere, de equívoco, de medo… E a chegada do Flávio com suas memórias inconclusas e depois, as verdades que não chegaram… Não há verdade nem confissão, há literatura. Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2020 – Torres

os nomes

Tenho que selecionar, limpar, organizar o caminho que abre uma porta, logo perde a chave… Agora estou com sono, não dormi esta noite. Paguei/passei os pecados, e rolei rolei indo e vindo. Vou dormir, preciso dormir, Beth Mattos – não te esquece mim, claro, quando chegares estarei vinte anos mais velha, talvez, nem me reconheças.

foto

Consegui, no meio dos papéis revisitados a me desfazer, a começar. Limpar e organizar para recomeçar, rasguei uma foto. Vinte anos ou vinte cinco anos para ter coragem de me desfazer de um rabisco e rasgar uma foto azul. Corajosa, fica o registro. Doeu um pouco, mas rasguei. Juntei os bilhetes, enfiei num envelope, e grampeei notas de supermercado, a compra de um colchão, de uma cama. Organizo a certeza que se passaram tantos anos! Não estou substituindo. Estou eliminando. Será que o abraço e o beijo vai me surpreender? Deveria. Mas, do outro lado, enorme silêncio.  E ficamos um tempo enorme decidindo se eras dois anos mais velho do que eu, ou dois anos mais jovem. E eu te amei. E a barriga está esquisita, o corpo dolorido, os olhos ardidos. Envelheço. Tens que te apressar. Terei tempo? Vem logo me visitar. Então, morar em Porto Alegre pode ser um jeito de me aproximar de mim mesma, de quem sou…voltar para a Independência. As coisas se acertam Fernando, logo estarei tomando café, e almoçando contigo e pensaremos coo serão as brincadeiras de arrumar os cabelos, vestir elegante e te visitar. Eu irei. Elizabeh M.B. Mattos – Torres 2020 – amanhã~vou derramar meu sentimento represado.

tentativa desenho

depois

Depois de um dia gelado / sensação inverno intenso chega a noite na calçada, pequena caminhada abraçada por temperatura cálida. Nuvens brancas se é possível ser branco assim na noite… Debaixo delas / atrás delas / antes delas (sei lá como descreve / se diz isso) deve ter um céu de estrelas acesas, por isso esta luz velada, escondida em noite de inverno frio,   morno e escuro / sem estrelas, mas iluminado… Confuso isso. Talvez seja apenas eu feliz, alegre, entregue aos passos do olhar a sentir meu adormecimento. Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2020 – Torres

fio e corte

Coisas/pesadelos ruins terminam… Que venha o bom sono! Conexões amargas cortadas. Tempo de respirar! Exite… Respirar no sentido de libertar. Sair do julgo, tirar pesos, aliviar o caminho. Hoje estou liberta. Grata ao meu pai e a minha mãe – generosos, inteligentes, cumpri esta parte da missão. Talvez a mais pesada. Que seja bom este inverno com céu azul! Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2020 (dia 4) – Torres