Sentimento de pertencer/ de estar/ de compartilhar, de ser tua. A entrega, uma cicatriz. O corpo conversa… É a chuva forte, foi o sol se enfiado na chuva fina, foi a calçada molhada e cheia de vestígios, foi outro sono que desceu em mim. És tu enfiado na minha vida e eu dentro da tua. Vontade tenho de me derramar inteira, livre, aberta, pronta e sem pejo. Vontade boa. Eu pergunto e o corpo todo responde. Resmunga doendo, feliz. Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2021
“A coleção de cicatrizes, em particular as da cara, que vês todas as manhãs quando te olhas ao espelho para fazer a barba ou pentear o cabelo. Raramente pensas nelas, mas, quando pensas, compreendes que são marcos da vida, que as várias linhas dentadas que te recortam a pele da cara são letras do alfabeto secreto que conta a história de quem és, porque cada cicatriz é o vestígio de uma ferida sarada, e cada ferida foi causada por uma colisão inesperada com o mundo – ou seja, um acidente é por definição uma coisa que não tem que acontecer. Fatos contingentes por oposição a fatos necessários, e a consciência que tens, quando está manhã olhas o espelho, de que toda a vida é contingente, à exceção do único fato necessário de que, mais cedo ou mais tarde, chegará o fim.” (p.8-9) Paul Auster Diário de Inverno memórias