desejo e sacrifício

Não observastes ainda que o prazer, que é, efetivamente, o único móvel da reunião dos dois sexos, não basta, entretanto, para formar uma ligação entre eles? E que, se é precedido pelo desejo, que aproxima, nem por isso deixa de ser seguido pelo desgosto, que afasta? É uma lei da natureza, que só o amor pode mudar; e tem-se amor quando se quer? É ele, entretanto, sempre necessário, e isso seria realmente muito embaraçoso se não houvéssemos percebido que, felizmente, basta que exista de um lado. Com isso, a dificuldade diminui de metade, e sem que se tenha muito a perder. Com efeito, um goza a felicidade de amar, outro a de agradar, um pouco menos viva, em verdade, mas a que se junta o prazer de enganar. Assim, estabelece – se o equilíbrio, e tudo se acomoda.”

[…] Uma infidelidade recíproca tornaria o encanto mais picante. Sabeis que lamento, por vezes, estarmos reduzidos a tais recursos? No tempo em que nos amávamos, e creio que era amor, eu me sentia feliz.[…] Mas por que nos ocuparmos ainda de uma felicidade que não pode voltar? Não, por mais que o digais, é uma volta impossível. Primeiramente, eu exigiria sacrifícios que seguramente não poderíeis ou desejaríeis fazer, e que é possível que eu não mereça. E depois, como vos assegurar? Não, não, não quero pensar nisso, sequer, e, apesar do prazer que tenho em vos escrever neste momento, prefiro ainda deixar-vos bruscamente.”(p.254-255) Choderlos de Laclos As Relações Perigosas (Les Liaisos Dangereuses) Volume 26 Os Imortais da Literatura Universal – Abril Cultural – 1971

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