” O que era mesmo que eles queriam mandar para o diabo? A experiência. Aquela experiência pessoal, por cujo calor da terra, por cujo realismo, o Impressionismo se apaixonara há quinze anos, como se fosse uma planta miraculosa. Agora diziam que o Impressionismo era lânguido e confuso. Pediam controle da sensualidade, a síntese intelectual!
Síntese para eles seria o contrário de ceticismo, psicologia, análise e dissecação, em suma, das tendência literárias dos seus pais? Até onde se podia entender, não falavam num sentido filosófico: o que compreendiam por ‘síntese’ era antes o anseio de seus jovens ossos e músculos desejosos de movimento livre, saltar e dançar, recusando qualquer estorvo de crítica. Quando lhe servia, não hesitavam em também mandar a síntese ao diabo, junto com a análise e toda a reflexão. Então afirmavam que o espírito tinha de ser estimulado pela seiva da vida. Habitualmente eram membros de outro grupo que afirmavam isso; mas às vezes, naquele fervor, eram os mesmos.
Que palavras fantásticas usavam! Exigiam o temperamento intelectual. O estilo de pensamento rápido, que salta ao peito da vida. O cérebro do homem cósmico. O que mais ele escutara?
A reformulação do homem dentro do plano de trabalho mundial americano, através da força mecanizada.
O lirismo aliado à mais intensa dramaticidade da vida.
O tecnicismo, espírito da era da máquina.
Blériot – exclama um deles – estava naquele momento flutuando sobre o Canal da Mancha numa velocidade de cinquenta quilômetros horários! Era preciso escrever esse poema-dos-cinquenta-quilômetros, e jogar no lixo toda a literatura mofada.
Exigiam o acelerismo, o aumento máximo da velocidade das experiências de vida através da biomecânica esportiva e da precisão acrobática!
A renovação fotogênica através do cinema.
Depois, um deles dissera que o homem era um misterioso espaço interior,[…]Alguém disse que era preciso olhar para dentro da alma humana, para fixá-la em três dimensões. E alguém fez a pergunta agressiva e de muito efeito: afinal, o que era mais importante – dez mil homens famintos ou uma obra de arte?” (p.287-288) Robert Musil O Homem sem Qualidades
É preciso mesmo olhar para trás / é preciso apressar o passo para não sermos atropelados pelas vaidades pululantes e exacerbadas, é preciso atenção porque ainda existem lobos, e nossas defesas nem sempre estão atentas, e somos devorados por falta de de energia – é preciso recuar para poder dar o golpe final. Cuidado com vaidade doente porque camufla essencialidades, é preciso paciência para entender, argumentar e ampliar, dar lugar para…, ceder o espaço, não por hierarquia, mas por serenidade. Vou atropelando a história, secando as feridas, tapando os olhos, sorrindo, sem sarcasmo, abrindo espaço os reis que se coroam eles mesmo, como Napoleão! pobre Imperador! Esqueceu do inferno gelado que a Russia guardava para recebê-lo! Não é um duelo, é a própria história que define os vitoriosos. Assim, meus filhos, lutem, todos os dias, durmam durante a noite e ao acordar, estejam vigilantes. Elizabeth M.B. Mattos – setembro de 2022 – Torres – sábado de muito sol, muita luz, uma primavera colorida se prepara – que venha!

