ainda sou cruel e seca, pesada: nenhuma vontade de perdoar / e as facadas sangram em mim, não sangram nos outros porque detesto sangue, não apunhalo. percebo as leviandades / as crueldades equivocadas: as pessoas se permitem! e, tenho vontade de anvançar… a convicção não deve ser apenas emocional. acaba sendo. o outro vira diabo porque nos afetou, arrancou uma estabilidade, acertou numa regalia que me era de direito. não é, mas, acredito nisso ou naquilo, a estrutura por traz importa – com ataques e mordidas defendo o quintal, controlo a floração…, esta energia de guerra espicaça por dentro.
tenho raiva da impotência por ela, a raiva, ser assim, irreversível. tenho raiva porque o bolo não ficou com aquele gosto esperado, mas outro… tenho raiva por ter fugido e por não ter aguentado sobreviver ali, naquele quarto, com aquela sacada, naquele momento seguro. foi inseguro, e, invasivo, escorregadio, perturbante. avaliei. contraditória observação. tenho raiva porque me dou conta / tenho certeza que está no fim. não quero a doença, mas justo ela, a doença atiça a coragem, a tal generosidade, reaviva o sentimento, porque quero viver. ufa! tenho raiva do que não fiz, até dos sonhos que viraram pesadelo, das sobrecargas, descargas, do medo. danado do medo! vou chutar a porta, derramar água fervente na cabeça das pessoas, dizer nomes feios, os piores, e a verdade. vou olhar no olho do outro, e dizer a verdade…, mesmo que seja mentira, sem lógica, a minha verdade está no meu olho, na minha percepção, ele que revire / revide… palhaçada esta doçura carnavalesca / abençoada literatura, e, abençoados sejam os amigos de fé, não o sucesso alheio… Elizabeth M.B. Mattos – outubro de 2022 – Torrres