“Esse milagre de ler, essa magia tão rápida no meu cérebro, como se alguém movesse uma varinha à distância ou soletrasse palavras misteriosas, desenfeitiçaram-me.
A partir dessa tarde de sábado, embora a minha prisão física não se alterasse, e os muros continuassem altos à minha volta, em todos os lugares, apossei-me da ferramenta que escavaria a minha liberdade.
As frases podiam roubar-me a qualquer lugar, levar-me para dentro de mentes diversas, e esutar o que pensavam e não diziam; as mentes dos bons e dos maus e dos mais ou menos, que eram a maior parte; sentar-me em navios perdidos, pairar sobre vulcões e dormir em jardins de rosas e sombras suavemente lilases.” (p.83) Isabel Figueiredo Caderno de Memórias Coloniais Todavia editora – 2018