
Vivi contigo, enlouqueci de amor e alegria. Acreditei no sol, enfrentei a tempestade. Abandonei o mar e a praia, obcecada por tuas histórias, teus olhos, tua magreza. As histórias que escreverias /as tuas histórias/ me faziam flutuar/afundar, amar mais e mais. Simbiose e expectativa: o mundo a nos dar repostas, entregar a paz… Merecíamos. Tínhamos a chave. De repente, no meio da chuveirada, desperdício amaricano de tanta água, atravessada pela literatura, a pensar nos afazeres, nos filhos, no tempo, e no envelhecer = entregar o infinito ao finito, uma dúvida. Terás dito a verdade? Qual foi mesmo o mote, o que de fato aconteceu? Estas memórias esquecidas estavam engaladas pela literatura? Por que escrever? O vício, o poder, a obsessão pode paralisar quando se pretende surpreender e pegar a onda com palavras e textos e poemas. Perguntas. Embora estejas aí do outro lado, embora possas responder e pensar, contar a verdade, não sei perguntar olhando nos teus olhos. Foi verdade? Ou a invenção da omissão não te permitiu dizer, enfrentar tudo outra vez. A versão oficial te engoliu. Por que somos assim aprisionados nas histórias? O que seria de fato enfrentar / dizer / ou derramar… Passados os anos, os castigos, o dilaceramento, sobrevivemos e resgatamos o sonho de liberdade… Nunca é hora de morrer, hoje continua, continuará… Elizabeth M. B. Mattos – fevereiro de 2023 – Torres
P.S. Claro, escreveste sobre a verdade / eu sei – estou a questionar as verdades (são tantas / tantos focos!) que nos perseguem, amarram e devoram… e nos fazem mentir. Duvidar da memória seletiva que pode nos afogar.

Petrópolis / RJ – Luiza Pedro e eu – 1990 ou 1991 (não lembro bem)