De fato, não há/existe palavra verdadeira, todas estão fantasiadas e espreguiçadas numa dimensão pouco confiável. Mais conversamos / dizemos e explicamos, pior a verdade. Livros, documentos, leis começam a se amontoar num simulacro contínuo, e todos para ensair a verdade, a possível verdadeira verdade: agarrar uma certeza para colocar ordem no caos a que chamo de comunicação.
“De fato os romances mentem – não podem fazer outra coisa -, porém essa é só uma parte da história. A outra é que, mentindo, expressam uma curiosa verdade, que somente pode se expressar escondida, disfarçada do que é. Dito assim parece um galimatias. Mas, na realidade, trata-se de algo muito sensível. Os homens não estão contentes com o seu destino, e quase todos – ricos ou pobres, geniais ou medíocres, célebres ou obscuros – gostariam de ter uma vida diferente da que vivem. Para aplacar – trapaceiramente – esse apetite surgiu a ficção. Ela é escrita e lida para que os seres humanos tenham as vidas que não se resignam a não ter. (Através da ficção eles – os homens – conseguem ter a vida que, em vida, não aceitam não ter – a negação da negação?) No embrião de todo romance ferve um inconformismo, pulsa um desejo insatisfeito. […] Isso significa que o romance é sinônimo de irrealidade? […] Nada disso. Convém pisar com cuidado, pois este caminho – o da verdade e da mentira no mundo da ficção – está semeado de armadilhas, e os oásis convidativos podem ser miragens. […] E nesses acréscimos sutis ou grosseiros à vida, nos quais o romance materializa suas obsessões secretas, reside a originalidade de uma ficção.“(p.16-17) Mario Vargas Llosa A verdade das mentiras
Ufa! Um desabafo. Por que estar sempre a explicar, ou voltar ao fato? O que aconteceu é objetivo. A narrativa se esfacela pelo caminho, as explicações resvalam em percepções e emoções diferentes! Não extamente mentirosas. Diferentes. Um copo de vinho, um dia ensolarado ou a chuva de uma tespestade, pronto, mudou. O ciúme brota onde nos sentimos insatisfeitos, inseguros (inseguros, exatamente, com o quê?)… Acredito naquilo que preciso acreditar com a mesma petulância que posso colocar em dúvida o sentimento de amor, raiva ou sei lá o quê. Os motivos desta ou daquela atitude se não foi pincelado, colorido, visualisado numa tela / num fixo efeito de ponto / de terminou, céus! a dúvida. Qual era/seria extamente o BOM término? A minha vida precisa deste ponto final? Pois é. Acho que não…Elizabeth M.B Mattos – março de 2023 – Torres

Foto de Pedro Moog