Ler pode ser respirar e falar ao mesmo tempo. Pensar, pensar, para conseguir entender o voo do pensamento. Estas algumas coisas me fazem ler, obstinadamente. Leio para conseguir entender quem eu sou, como se eu fosse a réplica, ou um pedaço de quem já foi… Ou para entender o outro, como ele é. Complicado saber quem sou, quem és, como nos damos as mãos, como me ajudas, como eu te ajudo. Um jogo de perseguição… Um jogo a trazer de volta a casa. Os pais dentro da casa, os irmãos, os cães, na casa. E com este puxar de tempo vem o perfume dos frascos enfileirados, o cheiro de bolo, o suor do verão… Ah! Quero os vidros perfumados dos perfumes!
Observar o outro na conversa distrai. Entro, sorrateiramente, no sorriso, na não compreensão. Depois as acertivas, ou a conversa se gruda no prazer de olhar, depois de tocar, depois de abraçar e também separar… Desbaratinar. Este fazer completo joga logo a pessoa para escrever, não basta explicar no atropelo da conversa, distraída ou sonora, com a voz, ou com teus olhos azuis, eu me distraio. Digo muitas sandices.
O que eu quero te dizer agora? Todos os livros se costuram dentro da pessoa, como uma super roupa de poder, e o hábito de ler, ou de reler os livros, os amados, é um exercício de domínio interior… Eu preciso me entender…
Quero ficar falando/conversando / dizendo uma tarde inteira. Comer o bolo de milho, ou o bolo de chocolate ou os teus sanduiches de festa, beber o chá e falar falar falar… Minha filha querida, era certo que dormirias no meio da minha conversa, então, eu puxava as cobertas, e sabia que nunca seríamos tão felizes como naqueles preciosos tempo de ler em voz alta. Dormias com a cabeça apoiada nos meus joelhos.
Não tem estudo mais intenso e delicado do que a grande literatura para quem se interessa por/em psicologia dos seres humanos, não tem outro caminho… Ah! Queria te explicar como foram estes anos todos! Um dia! Elizabeth M.B. Mattos maio de 2023 – Torres
