histórias se cruzam

Falavam português misturando com árabe, francês e espanhol, e dessa algaravia surgiam histórias que se cruzavam, vidas em trânsito, um vaivém de vozes que contavam um pouco de tudo: um naufrágio, a febre negra num povoado do rio Purus, uma trapaça, um incesto, lembranças remotas e o mais recente: uma dor ainda viva, uma paixão ainda acesa, a perda coberta de luto, a esperança de que os caloteiros saldassem as dívidas. Comiam, bebiam, fumavam, e as vozes prolongavam o ritual, a sesta. (p.48) Milton Hatoum, Dois Irmãos

Bom e precioso escritor. Dor acesa, paixão viva, coisas de escutar o eu, e transbordar na sintaxe. Escrever pode ser juntar letras. Pode ser, mas não é (pensar importa mais). Cito porque escrever me apunhala com a dificuldade – eu, vou a tentar, desanimo, persigo não chego. Agarro os pincéis , escolho as tintas, risco o papel e começo a desenhar… Antes, preparar o papel, mas, antes de preparar o papel escolher a boa qualidade. Depois a cor. Aguada, terebentina, esforço, ou o acrílico. A técnica, não basta. O bonito, não basta, o bom também não basta. Afinal, o que é trabalhar? Produzir? Suponho que seja continuar… Continuar. Elizabeth M. B. Mattos – maio de 2025 – Torres

foto de Ana Moog

(janela pro mar / janela pra lagoa/ janela pra vida)

eu ia contar quantas vezes eu me mudei, quantas eu comecei, quantas recomecei, contei a mesma coisa. casei com o amor amado, com o possível, casei às pressas descasei. rezei bastante. perdi perdão. nunca mais orei, mas estou a rezar o tempo todo. percorri quadras e quadras antes de chegar no lugar certo, e abri a porto do incerto. eu me assustei tantas vezes, eu festejei um milhão de vezes… coisas da vida! viver (começo outra vez, ou é recomeçar?)

2 comentários sobre “histórias se cruzam

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