O BULE ESTÁ NA VITRINE

Tens razão neste ir e vir e permanecer no mesmo lugar… Detalhes de um grande vazio. Na verdade um ponto, um texto. E todos juntos. Variantes.  Uma tela preta, um ponto branco, pode ser nada… Ou o começo. Um bule de chá vermelho pintado. Ou descrito. O começo.

Parece ruim este olhar demorado, mas não é…O objeto e suas diferentes faces! A leitura tem releitura. Voltas… Como ir ao baile de fantasia todos os anos com a mesma fantasia: o livro. Ou ir sempre ao mesmo baile….Que bom teres escrito! Leio tua carta no prazer, e posso te ver aí sentado na varanda a escrever.

Hoje vi o filme francês Entre os Muros da Escola: impressionante. Voltei estupefata! A imigração, a integração na vida do outro é uma adaptação cruel. Violenta e cruel. E todas as adaptações se assemelham… Como a banal relação de homem e mulher: nem sempre a mesma linguagem. Entender o outro é adaptar-se… Novas referências. Barreiras, às vezes, intransponíveis como mostra o filme. Ou soluções e leveza ao final.

Não somos diferentes, meu querido, etiquetamos a vida, as pessoas, as coisas. Tens razão, estou a me colocar na liquidação. Os outros são o bom resultado. Enquanto  alguns se  movimentam entre passeios e restaurantes, sigo entre o quarto e o quarto. Contabilizo… E sem dinheiro parece que não saímos do lugar. Vive-se a supervalorização da moeda como medida de vida possível.

Se morássemos numa ilha: pescaríamos, entraríamos no mar, dormiríamos na rede… Acender o farol. Acordaríamos com o sol… Parece igual, mas não é. Outras pessoas atravessam ruas, enfrentam o trânsito, comem às pressas, olham e conversam com as mesmas pessoas, equacionam, resolvem. Nós pescamos o peixe. Para eles não basta o peixe, querem o peixe limpo, cozido…

Existe a grande história, o grande romance, o sucesso ou o fracasso na ponta da vida… Antes, adaptação.  E sabemos que não tem pote de ouro pra pegar no fim da rua, não na nossa rua…Todos os dias , dia vencido. Importa o que escreveste: “No fim somos nós mesmos…”

Ainda não sei a diferença entre comprar o bule vermelho porque é belo (beleza, aliás, q só eu percebo), e comprá-lo como utilitário, para fazer a infusão.

O bule está na vitrine. Elizabeth M.B. Mattos – 2012 – Porto Alegre

Um comentário sobre “O BULE ESTÁ NA VITRINE

  1. Talvez essa diferença não exista… e tudo seja apenas a nossa necessidade de estabelecer categorias que pareçam estáveis…

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