O apito do guarda noturno, o gosto do açúcar, o olhar agudo sobre o desconforto. Depois o pão quente devorado com manteiga, o chá bebido como água quente, velho? A pressa de comer em casa, de enrolar-se na manta que trouxe. Os olhos na poeira dos móveis, a falta de ar… Engolir a comida. Comer com voracidade, desgovernar-se… Angústia de estar fora do seguro universo conhecido. A língua ligeira pra apontar o errado, a intimidade que constrange. Uma vez, duas, depois o outro, aquele que ouve, começa a sentir cansaço, mesmo exaustão. E o silêncio se instala. Estar calado, ou enfurecido no tédio também pesa. Espiando atrás da vidraça as pernas tortas desta, o chapéu daquele outro, a gordura do velho, a roupa esquisita, a histeria do cachorro… Um ser enfurecido, um temporal de chuva pesada no quintal da tua casa. Nenhuma paciência ou tolerância! E todos se minimizam na simplificação negativa de um mundo estereotipado. É preciso esterilizar as pessoas, e resguardar-se. Atrás de um sorriso acolhedor escorre o veneno diante da ingenuidade do trato.