Correspondência entre Xico Stockinger e Elizabeth Menna Barreto Mattos que resultou em livro em 2002.
Beth – Achas que há tempo (sem pensar neste negócio de idade) para retomar outros trabalhos? Iberê resolveu escrever. Ernesto Sábato pintar. E tu?
Xico – Às vezes penso que trabalho muito para fugir dos qüiproquós que eu arranjo. Trabalho porque gosto de fazer esculturas. Sou cheio de frescuras, recalques, e assim fazer bonecos me ajuda a esquecer essas coisas…
Beth – Trabalhamos para acertar coisas dentro de nós mesmos. Mas o maravilhoso nesta tua arte de fazer bonecos é dar o recado. Deles nascem outros Stockingers, que se apresentam para a luta. Conta da tua vida particular, tuas leituras, viagens, mulheres. O escultor tem uma corte. Assim eu vi a Vila Nova, muitos envolvidos. Há diferença entre a pluralidade de materiais e este trabalho repartido e exposto ao voyeuer? Isto sempre fez parte da tua vida?
Xico – Na Vila Nova há algo que eu nunca tive nos meus oitenta anos. Mas vamos parar de intimidades.
Beth – Temos potencialidades adormecidas. Será que a vida define o talento de alguns? Imaginaste descrever um mundo interior teu com os guerreiros e as guerreiras; eles são um ideário particular?
Xico – É preciso dizer que não caem estrelas do céu, nem ouço vozes. Na produção o que há mesmo no duro são mais de cinquenta anos fazendo escultura. Em cada uma aprendo algo de novo e cada uma me indica o caminho que posso tomar. […]
Editora Artes e Ofícios: Xico Stockinger Memórias