Amei-te com aquele apaixonado amor que nada explica. Tempo de papel. Ausência. Tanta ausência! Pura imaginação! Sem música, sem riso. Não quero mais a dor. Dor esquerda. Terror. Nem o moço de amar escondido! Da interdição. Avessos ansiosos. Sem Norte. Estou na caixa de papelão, no meio do parque. Longe dos holofotes. Palco vazio. Conta quem é Che Guevara? Quem te arrasta, e te puxa? Não entendo o olhar, nem a foto. Belo, mas sanguinário. Perfeito? Santo? São Cristóvão, ou São Jorge? Destituídos? Ou Brizola esticado, ampliado? Ou o pequeno Vargas? Atarracado e veloz! Quem diz? Não sei. Não entendo nada. Fala. Explica Napoleão, Mao, Hitler. Pinochet, ou Franco, ou a Rainha Elizabeth? Ou o líder inominável tão esperto, articulado? Quem é bom? Roberto Carlos? Caetano Veloso? Charles Azsnavour? Em quem eu me apoio, no Lacerda? No Prestes? No Bush? Ou no Collor com aquela voz linda, o descamisado… Bibi Ferreira? Paulo Autran? Iberê Camargo? Portinari? Goya? Ou Rembrandt? Quem? Na RBS TV, nos aços do Rio Grande do Sul? Nos rios que passam em nossas vidas? Neles não mergulhamos duas vezes. Em Belém? Não, no rio São Francisco. No Vianna Moog com seu esquecido Pioneiros e Bandeirantes, ou o México, ou a doce Portugal? Não. Amo a civilizada França. Ou aquela Ilha vitoriosa com rainhas, a vitoriosa Inglaterra! Os Estados Unidos da América? Quero a Noruega, Suécia, ou talvez a Suíça dos meus poetas… Carl Jung? Onde está este mundo praiano que não é Bósnia. A Turquia. Danúbio Gonçalves. Carmélio Cruz, Glauco Rodrigues. Não vou negar. Amo com raiva, com fúria. Tuas loiras, teus beijos, a vaidade perdida, tuas idas e vindas silenciosas, e tão barulhentas! Atrás daquela paz prometida, do famoso repouso do guerreiro reconhecido, aplaudido, herói. Roubo, tirania, vilania. Não quero os muçulmanos, o Buda, a seca, o mar antártico, as geleiras. Quero teu olhar azul pacífico. Quem mobiliza e arrasta os fantoches? A última ceia. Agarrados nas pandorgas que voam, viajamos também nos balões da Capadócia! E ou nos deitamos no mar salgado de Jerusalém. Empunhamos armas, nos escondemos em porões. Abaixo Obama! O meu Obama frágil e forte, contra tudo e todos, eleito, espremido, branqueando sem saber… Danosos preconceitos! Vou sair tatuada, livre, peitos ao sol, escandalosamente nua. Desço do ônibus com as malas, desço do ônibus urbano lotado segurando duas malas. Escândalo entrar pela janela do carro sem porta. Como posso esquecer?Que importa este isto, e aquilo que o poder manipula, expõe e seduz. Estou bebendo Chopin! Não. Comendo camarões com vinho branco. E te envergonhas com minha voz alta, com o grito burguês do álcool com o filé com batatas fritas do Bar Lagoa no Rio de Janeiro. Eu glutona, gulosa, rechonchuda de amor… Entrego minha nudez desfeita. E pudica nem corro pro mar gelado de Ipanema! Fico só despida diante dos teus olhos… Recatada, eu te persigo. Eu que não estou nas tuas memórias… Sem texto, e mesmo assim escondida nas palavras esquecidas. Sem direitos, sem mão, sem nenhum empurrão, sem foto de noivado, sem aliança, sem fio de ouro pendurado no pescoço. Sem anel esparramado com brilhantes e desenhos ofuscantes. Onde estão aquelas minas de ouro, minhas, tuas? As pratas, os cristais? Os aventais nos servindo engomados? Debruçamos-nos diante de Gandhi? Joana D’ Arc? Beatles? Não, o Lawrence… Lindo como Peter O’Toole! Vamos ler juntos Os Sete Pilares, e tudo saberemos do deserto, da safadeza da política. Memórias! Ou os vikings? Ou Ulisses amarrado ao mastro enquanto as sereias cantam, seduzem… Amarrado! Ou desbravaremos os sertões com Guimarães Rosa? Esta é a sugestão… Sem cavernas, sem louvores, nem música, nem álcool, ou música, sem gesto, sem beijo demorado, sem língua, sem dedos, sem pernas. Silencioso trabalho de teclar na tela maldita desta computação presente, invasora e útil! Estás naquela sacada aberta pro mar? Teu mar por direito. Abaixo o bem, o mal, o poder, o luxo e a luxúria, o amor que tenho por ti que já não existe. Ele se inventa, este movimento lúcido de saudade. Quero minhas músicas tão piegas, o piano violentando, e as leituras frenéticas. Seguro na minha mão este sentimento picado que chega numa avalanche. Os astros alinhados em Vênus. Segura teu olhar lacrimejante. Qual herói resiste? Eu te conto, o amor. Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2012 – Torres
Muito bonito Beth e forte. Poderia ter ajudado a despertar isso tudo se meus olhos fossem azuis e minha varanda desse para o mar…bjs
És galante!
bonito mas triste!!!!! voaste lindo……………….
Intenso, maravilhoso, belo final.
Que bom teres lido! Leste o texto original? Reescrever é preciso. Gosto quando opinas!
O final me fisgou.
Odila, tua opinião é preciosa.
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