Confissão

Cartas e histórias. Uma tela, um texto, narrativa completa. Pesquisa, resultado. Ou vulto, circo, nada, resultado. Uma única carta entre muitas, como esta de Iberê. O tempo não devolve as omissões, fica o lamento. Nem as dores. Nenhum amor… O que deixou de acontecer, apenas não aconteceu. Transito no vazio da desordem interior. E se hoje preciso tocar foi porque ontem não avancei nenhum passo. Eu me escondi… Elizabeth M.B. Mattos – Porto Alegre – 2013 –

Na foto, eu jovem.  No fundo, o óleo sob tela,  Carmélio Cruz – 1966 – Porto Alegre e fotos de Iberê Camargo com Pedro.  Viúva Lacerda – Humaitá – Rio de Janeiro.

“Porto Alegre, 25 – 02  – 1994

Querida Beth,

Mas como sou amarrada”, me dizes. Concordo. As dificuldades estão em ti, tu as cria e as alimenta. Por favor, reflete sobre esta frase de Rimbaud: ”Por ser gentil, perdi minha vida.” Vejo teus sucessivos hóspedes ocupando-te as férias, ocupando-te o tempo todo. Torres é um balneário que dá status. Nada melhor para esses teus amigos de areia, do que bronzearem a bunda com pouca ou nenhuma despesa. Seria melhorque ficassem em suas casas e enchessem uma bacia de água salgada e enfiassem o rabo dentro, melhor que interferirem na vida alheia. Não encontras uma ocasião para vir por que realmente não desejas. Estelita que se prontificou em te ajudar, até hoje aguarda a tua resposta. Ela não entende o teu silêncio. Falo-te assim duramente porque sou teu amigo de verdade. Sabe Beth, nós precisamos viver com verdade. Eu estou gravemente doente. Agora, tenho uma febre permanente que me deixa muito excitado. Se não aceitas o que eu disse, esquece e perdoa. Nossos abraços, nossos beijos

 o Iberê.”

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