“Realidade. Estar no coração de um dia de verão, como no interior de uma fruta, olhando para as unhas do pé, pintadas, para o pó branco nas sandálias, vindo de ruas quietas e sonolentas, sentir a expansão do sol por baixo do vestido, no meio das pernas, ver a luz polir os braceletes de prata, sentir os cheiros da padaria, do pãozinho de chocolate, ver os carros passarem, cheios de mulheres louras como as fotos da Vogue, e logo enxergar a velha criada com o rosto queimado, com cicatrizes, cor de ferro, ler sobre o homem esquartejado, e ali, à sua frente, perceber o corpo pela metade de um homem sobre rodas, enquanto o perfume do coiffeur canta a realidade.” (p.146)
Anaïs Nin – Diários Não Expurgados (1934-1937) – LPM Pocket
Ai…