Roupas para lavar nível mínimo. Presto atenção aos saltos e na ostentosa gritaria da máquina. Aos poucos, elimino amontoado de lençóis fronhas e toalhas da cesta. No intervalo arrumo a gaveta. Reviso notas, e transcrevo endereços telefones para a nova agenda 2014. (Maquininha infernal o celular!) Novos pregos na parede para novos quadros. Curiosa agitação doméstica! E leio o jornal. Ação contínua de bom domingo ensolarado ventoso, bem fresco. Hoje cedo fui ao supermercado comprar pão refrigerante manteiga nova detergente, e a Zero Hora. Lendo de trás pra frente, destaco a coluna do Santana escrita pelo interino Moisés Mendes, Gato ou Cachorro: “A vida e suas escolhas. Você acha que uma das grandes decisões da humanidade é esta que deve tomar agora, no vestibular, por exemplo, entre Engenharia e Medicina. Outra escolha: você tem que optar entre pegar logo aquela bolsa e ir para Paris, ou ficar por aqui mesmo, porque a Sorbonne já não tem tanto charme e a Bruna pode arranjar outro: você vai estudar o fim da pós-modernidade em Paris, volta insuportável e ainda perde a Bruna. Ou fica aqui não evolui como pessoa e perde a Bruna de qualquer jeito. Ou esquece a Bruna e se inscreve como candidato a colonizar Marte, com passagem só de ida. No fim as grandes decisões mesmo são as cotidianas que podem mudar muito mais a vida de alguém do que dois anos na Sorbonne. Uma decisão grave, que o mundo ocidental enfrenta é esta: gato ou cachorro? […] Gatos são femininos, cachorros masculinos. […] Cachorros, com certeza, sorriem. Gatos são impassíveis, mas intuitivos. Dizem que os gatos previram, por agitação noturna, a crise de 2008 que quebrou Lehmann Brothers e as bolsas, um cachorro menos apegado a bens materiais, não entende nada de capitalismo. Mas, enfim, questões práticas dividem e unem gateiros e cachorreiros. […]” E segue citando nomes e motivos, muito engraçados porque as pessoas gostam ou desgostam deste ou daquele. Depois conclui que escreveu tudo isso porque não tem Facebook.
Embora tenha o outro mundo que não te centralize, só faço pensar em ti, e nas danadas das escolhas. Tuas, minhas, na loucura das decisões, no tumulto interno, no silêncio necessário, neste ir e vir das pessoas porque é verão. Para nós nativos, a estação do sol tão boa como a das chuvas. O mar sempre a nos receber e cestos cheios de amoras azuis. Nas canções o francês. Noites invertidas divertidas, embora no mesmo lugar, sem ir e vir, mas fico. Quanto a máquina de lavar encontro solução e com óculos leio as letras miúdas das instruções; acerto nos botões, e viver parece mais fácil! Escuto tua voz: “Nunca usei esta máquina de lavar!” Penso nas vezes em que estiveste perto e longe ao mesmo tempo. Saudade. Onde estás? Em Paris, ou Berlim, Boston ou Verona. Ou era Veneza? Depois Rio de Janeiro, outra vez Porto Alegre, muito pouco Torres para usares a lavadora. A tua máquina de lavar. Projetos urgentes, mutantes. Decisões cotidianas. Vida um risco no céu, um cometa, ou veloz como carro da Fórmula 1, ou surpreendente como o dia nascendo ao mesmo tempo que a noite. Dança. Roda gigante. Enquanto sigo sentada na poltrona, pés nas almofadas, evito aquela danada dor. Leio ou costuro, ou apenas olho para trás. E tu neste ritmo todo, ora aqui, ora ali, cheia/tomada de sonhos planos dourados azuis ou verdes acontecendo na ponta corajosa da tua vontade. Penso em ti o tempo todo. Estará hidratando a pele, usando os produtos certos, cuidando do cabelo? Comendo o necessário, não apenas pão manteiga, e café preto …, nem dormindo muito tarde. Sei que acordas ao nascer do sol. És a imagem que só eu tenho de ti. O cheiro que apenas eu sinto. Tu mesma o tempo inteiro. Minha Luiza. Elizabeth M. B. Mattos – Janeiro de 2014 – Torres, Praia da Cal