Pelo avesso

VISITAÇÃO

Duas horas de estrada estreita, verde. No cotovelo da rua que termina em jardim, a casa. Abre-se o portão. Abraço inesperadamente apertado. Engole o susto. O encontro surpreende Isabel. Almoço no pavilhão envidraçado. Discos de vinil! Fatia-se o tempo em boas histórias. Do avô, da mãe, deles os dois.

Deita sem estar cansada. Acorda no meio da tarde. Chuva escorrendo, lavando a jabuticabeira, transbordando a piscina. Cores pálidas se espalham pelo jardim. Pode ver também a montanha. A neblina daquele sono sem sono, pesa. O cheiro, o abraço. Improdutivas lembranças. Calça frouxa no corpo. Camiseta branca, larga. Sapatos com o desbotado do bom couro, gastos. E, no desleixo aparente a soberba. Nada poderá quebrar o asfalto. Educado, gentil, manso, inabalável.

O largo avarandado abriga antúrios. O cristal das vidraças. O lustre com placas móveis, brilha. Tapetes, o piano de meia cauda. Grandes poltronas. Pratas e pinacoteca de mestres mexicanos. Estantes de mogno. Castiçais de cristal com longas velas brancas. A bandeja polida coberta por guardanapo de linho chega com o café. Recheio no bolo de laranja. E silêncio.

Nada deixará de ser. Tudo escrito exatamente do jeito que será amanhã, depois de amanhã. A culpa da culpa do outro se rasga ardente. É preciso escrever pelo avesso.

VISITAÇÃO

Duas horas de estrada estreita, verde. No cotovelo da rua que termina em jardim, a casa. Abre-se o portão. Abraço inesperadamente apertado. Engole o susto. O encontro surpreende Isabel. Almoço no pavilhão envidraçado. Discos de vinil! Fatia-se o tempo em boas histórias. Do avô, da mãe, deles os dois.

Deita sem estar cansada. Acorda no meio da tarde. Chuva escorrendo, lavando a jabuticabeira, transbordando a piscina. Cores pálidas se espalham pelo jardim. Pode ver também a montanha. A neblina daquele sono sem sono, pesa. O cheiro, o abraço. Improdutivas lembranças. Calça frouxa no corpo. Camiseta branca, larga. Sapatos com o desbotado do bom couro, gastos. E, no desleixo aparente a soberba. Nada poderá quebrar o asfalto. Educado, gentil, manso, inabalável.

O largo avarandado abriga antúrios. O cristal das vidraças. O lustre com placas móveis, brilha. Tapetes, o piano de meia cauda. Grandes poltronas. Pratas e pinacoteca de mestres mexicanos. Estantes de mogno. Castiçais de cristal com longas velas brancas. A bandeja polida coberta por guardanapo de linho chega com o café. Recheio no bolo de laranja. E silêncio.

Nada deixará de ser. Tudo escrito exatamente do jeito que será amanhã, depois de amanhã. A culpa da culpa do outro se rasga ardente. É preciso escrever pelo avesso.

Deixe um comentário