“Mas a peculiaridade desta é que quem chega numa noite de setembro, quando os dias se tornam mais curtos e as lâmpadas multicoloridas se acedem juntas nas portas das tabernas, e de um terraço ouve-se a voz de uma mulher que grita: uf!, é levado a invejar aqueles que imaginam ter vivido uma noite igual a esta e que na ocasião se sentiram felizes.” Ítalo Calvino, As Cidades Invisíveis
Passados tantos anos longe de Portão Azul volto as construções de pedra, acinzentadas, especialmente hoje, fotografadas para você. Ruas de terra batida ladeadas por perfumados eucaliptos. Cheiro verde na floração vermelha, peculiar. Cercas demarcam o limite de cada propriedade. Reconheço amigos pelas chaminés. Os fogões a lenha delatam, contam o que acontece nas casas. Sopão, assado de galinha, ou de porco. Perfume do pão de milho. Batatas cozidas ao leite. A comida descreve para você a cidade onde nasci.
Passados tantos anos volto para as hortênsias rosadas. Azul pálido, depois, azul intenso. Flores tenras, esbranquiçadas. O campo de margarida da casa da esquina. E perto do rio Tininho, plantação de copo-de-leite. E o verde. E o vermelho dos eucaliptos. O vento agita num abano preguiçoso as ramadas das árvores. Não sei como pude esquecer as rosas! Rosas do senhor Amâncio. E a soja verde espevitada. A narrativa segue nos cliques. O retorno ao lugar onde nasci… Literalmente vim ao mundo no quarto rosado. Janelas abertas para os cinamomos que volteiam a casa. Uma tarde de verão. O sobrado majestoso se mostra exibido. Pés descalços, venho ao meu encontro risonho. Estremeço.
A geografia de buzinas, vozes, gritos na noite. Estou de volta. O som sorridente, estridente sobe até minha sacada. A cidade que escolheste… Durmo como se estivesse dentro do bar. Perto do café. Entre a farmácia e a padaria. No verão derrete o asfalto que gruda na minha sandália. E o ônibus me aperta no percurso do apartamento até ao escritório. Escadas escuras, pequenas salas. Gasto meus olhos entre carimbos e pastas. No subsolo daquele prédio enorme que chamam Torre Central. O silêncio dos murmúrios desperta meus nervos tensionados. Trabalho das oito horas da manhã até ao meio-dia. Depois vou flanar pelas esquinas da cidade. E todos os cliques são o azul de olhos apaixonados por você. Adormeço onde você estiver. Elizabeth M.B. Mattos – 2014 Porto Alegre
mto lindo ,me fez sonhar tbm !!!
Amiga! Que bom teres deixado uma mensagem, uma palavra. Fazer sonhar , sonhar é como estar lá. Acho que preciso voltar pra Portão Azul. Seria uma forma de hoje, hoje, ser o melhor.
Lindo me fez imaginar o portão azul com o azul das hortênsias com o azul do céu! …como se não fosse o azul das rendas ,vestido dos quinze anos …
Ao Portao azul das casas de antanho
tua observação, tua leitura! Obrigada Beta, nós e o tempo