As coisas têm valor no uso. Naturalmente. Ou não importam. Troféus não importam. Num gesto cansado, alucinado, abandonei os óculos naquela esquina, na casa roxa da esquina. O alinhamento da vida com o que de fato se pode e deve fazer… Há despedidas, constantes adeuses para nunca mais, perdas, ou desencontros, desacertos. Um peso estranho ao tempo, sem espaço, sem concreto. Levo uma mala, uma única mala. E tudo fica pra trás, em caixas. A espera… Cheiro do recomeço, que afinal, é um começo. Não existe voltar. Assim, o bom seria retomar o hoje esticado na rotina de tirar o pó, lavar, esfregar, polir. Escovar. Usufruir daquelas quatro horas precisas, diurnas, sem sono. Colocar os brincos. Mas nunca mais pude usar os brincos! Longe de ser o peso do ouro, os brilhantes, o trabalho do ourives. Apenas os brincos que me encantaram, alegraram ! A luz do aniversário. Desapareceram. Deveria ter sido cuidado, perfeito, foi atabalhoado, estreito, desencontrado o dia deste aniversário. Cansado. Tenho quebrado as coisas. Como as quatro taças de licor que o vento derrubou, estupida ventania! Minha tumultuada volta para Torres! Tudo fora do lugar. Perdida. Destruída, a recomeçar. Afetos medrosos. O brinco, bilhete, a moeda, restava pouco! E fora do lugar. Outra vez coloco em prateleiras sentimentos. Outra vez achada, encontrada. Tão difícil! As caixas escondem, tudo aparece e desaparece. O que escrevo faz sentido, e logo já não faz nenhum sentido. Estrangulamento, estranhamento. Não vou ao encontro do fato, desapareço, eu também, nas caixas, nas estantes.
Elizabeth M.B. MATTOs – novembro de 2014- Torres