“Não vivemos mais o tempo em que podíamos degustar Hamlet sem nos preocuparmos demais com Shakespeare; a curiosidade grosseira pela anedota biográfica é uma característica de nossa época, misturada pelos métodos de uma imprensa e de uma mídia que se dirigem a um público que sabe ler cada vez menos. Tendemos todos a levar em conta não o escritor que, por definição, se exprime em seus livros, mas também o indivíduo, sempre forçosamente disperso, contraditório e inconstante, oculto aqui e visível acolá e, finalmente, talvez acima de tudo, o personagem, essa sobra ou esse reflexo que às vezes o próprio indivíduo (é o caso de Mishima) contribui a projetar, como defesa ou bravata, mas que, aquém do qual, o homem real viveu e morreu dentro desse segredo impenetrável que é o de toda a vida. (p.10)
MISHIMA ou a Visão do Vazio, Marguerite Youcenar. S.P. Editora Estação Liberdade,2013.