Troco os móveis de lugar. Tiro da estante o livro. Velhas observações. Cada leitura, lembrança específica. Repasso este, aquele. Tudo em desordem. Arrasto armário para lá, levo mesa. E aquela mesa pequena? Resolvo quebra cabeça das cadeiras. Fujo do computador. Da tarefa. Sou eu o centro. Interessa o que escrevo? Abro o livro.
Experiência perfeita da leitura. Descubro o nosso retrato, fico a nos perseguir em qualquer página, em todos os livros… Talvez seja isso. Se reconhecer um milhão de vezes. Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2015 – Torres
“Finalmente compreendi que a solução para o dilema, o constrangimento de escrever sobre ‘problemas pessoais insignificantes’ era reconhecer que nada é pessoal, no sentido de que é exclusivamente próprio de uma pessoa. Ao escrever sobre si mesmo, está-se escrevendo sobre os outros, pois os problemas, sofrimentos, prazeres e as emoções do autor – junto com suas extraordinárias e notáveis ideias – não podem ser apenas do autor. A maneira de lidar com o problema da ‘subjetividade’, essa chocante questão de estar preocupado com o minúsculo indivíduo que é ao mesmo tempo apanhado nessa explosão de terríveis e maravilhosas possibilidades, é vê-lo como um microcosmo e, assim, irromper através do pessoal e do subjetivo, generalizando o pessoal, como na verdade a vida sempre faz, transformando uma experiência particular – ou assim se pensa quando ainda se é criança: ‘Eu estou me apaixonando’, Eu estou sentindo esta ou aquela emoção, ou pensando isso ou aquilo ‘ ‘- em algo muito maior: crescer é, afinal de contas, nada mais do que aceitar que a única e incrível experiência que se teve é o que todo mundo partilha.” (p.13) O Carnê Dourado, Doris Lessing. Editora Record. RJ. 1972.