
Demolição do antigo chalé. Desmantelamento. O que é íntimo num repente exposto. Violado e mutilado. Propriedade do segredo aberta, derramada pela calçada. A casa tem o desenho de quem se esconde por detrás de suas paredes. Portas abertas ou fechadas. Abrigo, ou possível reserva, esconderijo.

Podemos descrever a sala vazia, silenciosa e limpa. Espelhos, colunatas, e o cheiro da madeira. As venezianas escancaradas. Vemos poltronas, mesas. As cortinas esvoaçam … As camas de madeira pintada de branco. Laqueadas. Tanta coisa secreta e poética e viva numa casa! A pensar. A casa é o teu lugar mais secreto. O sonhador aquele que mora se sente no secreto de seu segredo protegido por ela. Gostaríamos de escancarar todas as portas, e gostaríamos de nos abrir, mas …. Quem enterra um tesouro se enterra com ele. O segredo é um túmulo, não é à toa que o homem discreto se gaba de ser o túmulo dos segredos. Toda intimidade se esconde dentro da casa. É no interior que a vida desabrocha. Na intimidade. E eu penso: ninguém me vê mudar. Mas quem me vê? Eu sou meu esconderijo. E a casa meu cofre. Agora ruína exposta. Virada e aberta exposição. Destruição … assim, aos olhos de qualquer um. E toda a história íntima espicaçada. Demolição, ou vândalos. A abandono completo …. É preciso estar presente, presente à imagem no minuto da imagem. Pela explosão de uma imagem, o passado longínquo ressoa em ecos, e não se sabe, nem se adivinha em que profundidade esses ecos vão repercutir.
Nestas fotos a vida se desmancha …. Não tem passado, nem futuro. Agora, apenas a explosão. O cofre foi arrombado. Elizabeth M.B. Mattos – Torres 2016




