Não sei se deveria pensar e pensar, mas existe o que vem na esteira do possível como arrastar cadáveres. E nem são exatamente mortos, mas lembranças desarrumadas. O que nunca existiu dança um tango. Violência escondida no discurso, palavras não são impotentes… O trânsito da tragédia, do choro, das dores flui numa catarse de rascunho, um esboço. É o possível. Sim, há uma representação na narrativa. Acho que é isto. Não o mais fácil nem o mais difícil, uma representação. A narrativa tem avesso e direito, este certo e errado tem borda. Uma história atrás de um nome. Não posso escutar o nome. Tinha um apelido. Mas é o nome que respinga para todo o Francisco, Raimundo, Frederico, Paulo ou Fernando, Antônio… O julgamento se arrasta. O pequeno se explica atrás da saia da mãe, das irmãs, de uma Maria, ou de uma Rosalinda. Menino dengoso. Julgamento reflexo. Uma explicação? Modelo engessado. Viscoso e hereditário. Não tem pessoas com mais ou menos bondade, ou mais ou menos generosidade. Mais ou menos honesto. Mais ou menos caráter. Tu és arremedo, nem história inteira, episódio. Se não esqueço é porque não consigo perdoar. Não é minha esta maldade, mas passa a ser… Vaidade e sedução, ou uma excessiva credulidade. Uma gentileza na gentileza do sorriso, alguma coisa pequena e grande ao mesmo tempo. Tropeço, avanço, generalizo, escapo, interrompo. Mas estou no porão, a remexer o caldeirão. Não vou melhorar nada, transformo a raiva. Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2016 – Porto Alegre
Nos encontramos numa contramão qualquer. Fiz um gesto de carinho sem parar e sorrindo falando. Ele saindo eu entrando. Ele indo, eu chegando. E aquela frase convencional, apressada. Que bom te ver! Vamos marcar um café, ou qualquer coisa destas que se vestem de formal gentileza. O outro tem certezas que não temos. Pegou a estrada, e veio/foi olhar o mar.
Desculpas de amar/gostar espalhadas na casa da Vitor Hugo, por que ia me ver? E quarenta anos depois para enxovalhar esta memória… Machucou para justificar. Não sei contar a história, aliás, não tem história, mas um personagem, uma conversa confessional, o choramingo … E esta lembrança engasgada.
Edvard Munch