O outro explica melhor

Estou cansada. Reli o que escrevi até agora com alguma ansiedade. Será que consegui explicar-me? As coisas amontoam-se na minha cabeça; para saírem, empurram-se e acotovelam-se diante de saldos de fim de estação. Quando raciocino, não consigo ter um método, seguir um roteiro que se desenrole com sentido lógico do começo ao fim. Às vezes fico pensando que isso se deva ao fato de eu não ter ido à universidade. Li muitos livros, muitas foram as coisas que despertaram a minha curiosidade, mas sempre com uma parte a minha cabeça pensando nas fraldas, outra nas panelas, e outra mais nos sentimentos. Quando um botânico passeia por um jardim, escolhe as flores segundo uma ordem precisa, sabe o que lhe interessa e o que não lhe interessa nem um pouco; decide, descarta, estabelece relações. Mas se for um mero visitante, as flores serão escolhidas de outra forma, uma porque é amarela, outra porque é azul, uma terceira porque é perfumada, uma quarta porque estava bem ao lado da trilha.  Acredito que o meu relacionamento com o saber se tenha dado mais ou menos dessa maneira confusa. Sua mãe não se cansava de me repreender por isto. Toda vez que tínhamos alguma discussão, eu sucumbia quase imediatamente. ‘Não tem dialética”, ela dizia. ” Como todas as pessoas burguesas, você não sabe defender seriamente o que pensa.” (p.41)

 Vá aonde seu coração mandar, Susanna Tamaro. Rocco, Rio de Janeiro,1995. Tradução Mário Fondelli

O livro é uma longa carta de amor de cento e trinta seis páginas. ” […] na tentativa de recuperar um relacionamento comprometido por incompreensões mútuas. A avó nada esconde, ainda com o risco de parecer dura” …

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