“Franz diz assim: Se eu tivesse encontrado você antes, teria sido bem diferente, mas antes eu não poderia tê – la encontra, o primeiro momento foi Müritz. Eu não estava pronto antes disso. Tudo precisou acontecer como aconteceu, apenas então eu pude ter você e vir para Berlim e viver assim, como vivemos.”(p.98) De Michael Kumpfmüller, O esplendor da vida, LPM Editores,2016.
Encontrar sem conhecer. Resolvo escrever, e contar. Da festa, da música e do encontro. Pela foto imagino você um leitor curioso. Um homem gentil. Viajante. Encontro beleza alegre esparramada embutida … Das imagens a história. Curioso movimento de sair e chegar e trabalhar e estar. Portugal Brasília Rio de Janeiro Torres Porto Alegre. Olho os livros. Caminho encabulada pela sala e me sinto intrusa, embora acolhida. Bebemos água gelada com limão. A ansiedade toma conta do olhar, da voz que brota desordenada. Um assunto dentro do outro. E olha espantado, também encabulado. Inquieto por sua vez, e não me faz calar. Sentado naquela poltrona grande verde escuro você me escuta atônito. Por que seria fácil estar na sua casa? Sigo falando e me dou conta que a voz está alta, acelerada que você não deve estar entendo, apenas escutando. Tenho vontade de rir. O que estamos os dois a fazer? Vontade escondida de novidade que espia. E o acaso se encolhe envergonhado. Eu já sabia! Conheci você naquela festa alegre dos noventa anos da tia Mariazinha. E você não estava lá …. Sim, temos esta ilusão de acreditar no imaginado. Se você estivesse lá teria reconhecido você. Comentamos o seu último livro lido. Contei estórias. E mencionamos noites grandes, manhãs enormes. Sei que você adora o som dos pianos. E imagino o dia seguinte, debruçada no dia de hoje. Leituras demoradas … Saudade do que já passou. Estamos os dois a dividir esta coisa esquisita da nostalgia. Você quer contar, quero ouvir. Vou sacudir o medo dos absurdos, vou me encontrar com o prazer de chegar, e escorregar nesta enorme alegria. Eu estou escondida no seu abraço.