Macabro sinistro violento

Há qualquer coisa de macabro sinistro violento nestes pacíficos acidentes fatais. O assassino desaparece como se fosse um mártir, não deixa vestígio, nada se explica… Fica o cheiro fétido da morte.  E o motivo era caminhar até o parque, visitar o filho, comprar flores. Estar no evento. O inesperado da morte em acidente fatal. As pessoas desaparecem no negro do acaso, e nada pode explicar. Perplexidade. As bruxas desaparecem, os feiticeiros se transformam em anjos. E o que era história vira lenda. Celebrações na despedida, abraços, flores e música. Multidões depois  silêncio. Uma cabeça, um braço, uma informação pelo mutismo constrangedor do acidente, que se diz, fatal. Um amontoado de especulações que se arrastam, uma ameaça velada. Uma lágrima atômica. Constrangimento. Não, não pode ser fim, nem meio do caminho, mas o começo, sempre o começo. Sempre importa o dia seguinte. O vácuo, uma cadeira vazia, uma história. O depois importa. O dia seguinte… Muitos ainda vivem. Pedras arremessadas, mas voltam dispersas para serem reorganizadas, e temos o jogo. O puzzle requer atenção, maestria, cuidado. Elaboração, preparação da matéria, da dificuldade, da solução complicada, lenta. Se apaga se o mestre não socorre, não explica, e sempre tem um mestre por detrás do assassino, da aventura, do inesperado:  um mestre para fazer / criar o puzzle. Quem será o Mestre?  Diabolicamente sofisticado. O quebra cabeça se desenha na inteligência, neste caso, macabra de um criador.  E a morte? Eliminar se transforma numa medida radical lúcida lúdica fácil inexplicável e lógica porque assertiva. Estes macabros acidentes nos deixam secos. Não há lágrima neste ir e chegar que não deu certo, o desencontro casual. O tal encontro com o ponto final.  Estou diante de uma folha de papel branca e de um ponto preto que tanto pode ser o final ou o começo. Não entrei na sala, não fui vê-la porque estava exausta de uma exausta chegada e o amanhã seria o bom dia. E foi no amanhã enquanto eu dormia que ela morreu, ele morreu. Nada disso pode mesmo ter acontecido, fantasia. Tudo invenção, tudo história sem graça. Não entendo porque insistem em contar para as crianças tal fábulas! Há qualquer coisa de macabro nesta morte repentina, na morte acidente.  Sinistro adormecer a rainha oferendo no cálice dourado o veneno mortal.  Enquanto eu dormia ela morreu. Assistimos passivamente estas mortes que se fazem acidentes. Serão apenas um acidente, ou um assassinato? É preciso voltar ao início.

Torres, 19 de janeiro de 2017. Mais um acidente fatal, desta vez um ministro desaparece. E.M.B. Mattos – Torres

Um comentário sobre “Macabro sinistro violento

  1. ..é real tudo que ali escreves! Nao ha dor maior que a morte…mesmo que tentemos entende-la nas suas diversas formas, credos, explicações…
    Resta a saudades tao dolorosa quanto…

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s