Enquanto espero você

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Escrevo, mas você não está. Outras vezes escrevia sabendo que você estava perto muito perto chegando ao escritório, ao jornal. Escrevendo uma carta, assinando um texto… Em Buenos Aires, São Paulo, na Itália. Ou na Suíça, e perto. Sempre estava comigo. Atravesso o portão, e já na calçada sonho com o outro lado, perto. Estou em casa depois de um dia de bastante trabalho, trago suas cartas. Enquanto leio estou ao seu lado, escuto a voz, e sinto o cheiro… Os animais se reconhecem pelo cheiro.  Eu me agarro de carta em carta. Espero pela manhã a carta da noite, e encontro na volta, a carta da manhã. Teus enormes telegramas. Não raro leio de pé antes de subir a rua, e muito me escapa porque caminho, tropeço, e também porque leio com avidez. Leio sem tirar o casaco para não perder tempo algum, estar contigo. E muito me escapa, há que reler, e no fim há duas cartas, uma primeira que soa como música, e uma segunda que é feita de palavras. Não vais chegar na hora nem no dia marcado. Houve outro contratempo. Vais telefonar. Não atendo ao telefone porque engasgo com tantas datas prometidas e adiadas. Uma carta olhos azuis, outra a magreza, e já na outra o dia incerto e a espera. Eu te amo. Leio o outro lado do mundo, imagino como você se movimenta, o que faz, ou se está com medo. Talvez você sinta medo. O medo está nas ruas. Bandidos engravatados. Esperando…  Respiram este medo, e, tecem macabros assassinatos, ou sinistros desvios. Medo é o sentimento chave do momento. Também esperar. Crimes e tantos acidentes inexplicáveis!

Lamber a faca numa refeição, ou depois dela, é no mínimo solitário, esquisito, mas sempre proibido, interditado. De guerra o gesto porque nela existe a liberdade de tudo poder. Mas não podemos tudo. Comer batatas cruas.  Mas não estamos exatamente em guerra, e a mesa posta para o chá, linda! Empurrar o prato é um gesto de enfado e impaciência. Esticar as pernas, mais enfado. Eu me escandalizo, não reconheço você. E penso que pode ser descuido de envelhecer… , não é intimidade. Falta de educação. Será que eu também estou/ sou assim largada gulosa glutona, voraz? Engasgo. Lamber não pode acontecer. Equívoco? Não te reconheço. Elizabeth M.B. Mattos – janeiro – 2017 – Torres

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Penso. Você esqueceu de me levar para o nosso mundo, e me largou a esperar por você…  Vou brincar no banco da praça, e depois reler as cartas. Diurnas, notívagas. Cartas insones mais tarde, enquanto penso que me pensas.

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