Vejo um cavalo puxando uma carroça. Dolorido, suado, magro. Cansado. Carros gritam com buzinas. Ele segue, aguenta a lomba cansado. A tristeza se derrama pela ladeira. Cascata de tristeza que escorre no paralelepípedo, e sobe nas calçadas. As pernas doem, suarentas, exaustas. Sem cabresto sigo, sigo molhando o corpo na imunda saudade triste. Lembro a carta solidária de Iberê Camargo descrevendo solidão, gritando dor. E o quadro azul, o último. Solidário, impotente. Mundo egoísta a carimbar propriedade, grilhão, peso que mede a dor. Sobrevivência. Propriedade. Mil réis, cruzeiros, centavos, reais. Planto tomates e alface nas janelas poluías de São Paulo. Esqueço tudo o mais. Abraço uma saudade juvenil de amores de verão. Vou recortar cartões, recolher as fitas. Derramo um sorriso nas teclas do computador. Tu escutas do outro lado do fio. Rimos. O que é mesmo que dizíamos?