

O NOME DO LIVRO * 1987 Diário de FRANCISCO BRENNAND, volume II (1980 -1989)
“12 de abril – 10 h
A surpresa de encontrar pela manhã um poema de Deborah. Em treze versos curtos e livres de qualquer convenção, ela diz mais da solidão do que eu em centenas de páginas escritas, bradando súplice contra o esquecimento. Os poetas têm certamente esta vantagem: a sua linguagem é quase sempre exata. E o que dizem – apesar de uma aparente obscuridade – acerta, de vez, os ponteiros de todos os relógios.
O tempo parece parar sob este céu imenso … Todavia, é preciso lembrar o poema inteiro, que me apresso em transcrevê – lo: Bem ou Mal
Deborah Brennand
O bem seria escrever
com letras alvas.
Tão claro o tempo passa,
longe, nas aleias do jardim!
O bem seria deixar, nas rosas,
enferrujar um esplendor de sangue
ou, na oitava luz da Lua,
erguer da face o véu escuro.
E o mal? – são as pedras,
soltas no caminho, brutas feras,
vigiando em silêncio, vigiando,
se a brisa segue e eu fico
sob este céu imenso, sozinha. “

Fotos de Luiza Mattos Domingues Recife, maio de 2017